domingo, 28 de janeiro de 2018

Entrevista com Laurinda Seabra

Ciclo de entrevistas realizadas pelo Núcleo de Jornalismo da Associação Min-Arifa no Jornal diariOnline - Região Sul como título o ambiente é de todos.




O ambiente é de todos     

Temos o dever de pensar na sustentabilidade das futuras gerações

Entrevista com Laurinda Seabra 
Jornalista: Paula Ferro


                
A sexta entrevista do ciclo “o ambiente é de todos” que o Núcleo de Jornalismo da Associação Min-Arifa vem realizando no diariOnline do Região Sul é com Laurinda Seabra e aborda a problemática da extracção do petróleo no Algarve.
Laurinda Seabra nasceu em Luanda, em 1955. Na puberdade foi viver para a África do Sul onde se licenciou em Engenharia Mecânica. Em 1975, ainda como estudante estagiária, começou a trabalhar numa empresa petrolífera.
É Mestre em Gestão de Negócios, pela Milpark Business School, e a sua carreira profissional foi feita dentro da indústria petroquímica, onde ocupou diversas funções, incluindo administração.
Em 2004 Laurinda Seabra decidiu mudar de rumo profissional e passou a ser a Directora da Empowerment Gatewey Consulting, uma empresa de consultadoria e empreendedorismo social, registada na Inglaterra e na África do Sul, sediada em Lagos.
Em 2012 funda uma associação, a ASMAA (Algarve Surf and Marine Activities Association), a que preside.
Aos 15 anos de idade Laurinda começa por ser activista pela defesa dos direitos humanos. Devido à sua carreira profissional compreendeu a necessidade de se proteger o ambiente e o seu activismo estendeu-se a esta área.
“Em Julho de 2015 foram publicados na internet, na página oficial da organização do governo responsável pela área do petróleo e gás natural, ENMC, contratos entre o governo e empresas petrolíferas, já realizados”, conta Laurinda Seabra, “nós analisámos os contratos e pedimos um parecer jurídico que nos disse que os benefícios para Portugal eram muito poucos ou quase nulos e que traziam muitos riscos”.
Em Setembro, a ENMC publicou dois novos contratos para o Algarve, desta vez, relativos a concessões em terra, com os nomes de Tavira e Aljezur”, continua a presidente da ASMAA, “se estávamos preocupados com as explorações no mar, quando percebemos que estes novos contractos vão deixar entrar no Algarve as tecnologias de “fracking”, a situação tornou-se muito mais seria, porque se há riscos na exploração no “offshore”, os riscos que o processo de “fracking” traz são muito maiores e têm impactos negativos permanentes”.
“Na Europa o “fracking” está proibido em alguns países e nos EUA há um intenso debate cercando a exploração por “fracking” devido aos danos já causados”, comunica a engenheira mecânica, “este tipo de extração agride gravemente o meio ambiente por se tratar de um processo que consiste na perfuração e injeção de fluídos químicos no solo para elevar a pressão, fazendo com que haja fratura das rochas e a liberação do gás natural. Nos fluídos usados existem cerca de 600 produtos tóxicos, incluindo agentes cancerígenos. Cada poço pode ser fraturado até 18 vezes e são necessários, de 400 a 600 caminhões tanque de água, para cada operação. O fluido que é usado é deixado a céu aberto para evaporar, tornando o ar contaminado e contribuindo para o surgimento de chuvas ácidas” e continua, “durante o processo, as águas subterrâneas próximas que são usadas para abastecer as cidades da região, também ficam poluídas. Houve mais de mil casos de contaminação próximos a áreas de perfuração já confirmados”.
No respeitante à exploração “offshore”, os danos podem ser imensos, “quanto à indústria da pesca no Algarve, pois a pesca comercial é um dos nossos mecanismos económicos que precisa de ser preservado e a pesca desportiva é uma das atividades mais populares na região. Um desastre de petróleo ou de gás no mar irá impactar diretamente nas nossas indústrias de pesca, resultando em perdas de valiosos recursos e também a perda de muitos postos de trabalho nesta indústria”, explica Laurinda Seabra, “a nível da indústria do turismo do Algarve, as zonas costeiras que estão ainda imaculadas, onde ainda está presente a vida selvagem, atrai dezenas de milhares de turistas por ano, injetando um impulso económico para a região. O perigo de um desastre de petróleo terá um papel negativo na decisão dos turistas para visitarem o Algarve”.
“Sejamos nós algarvios ou tenhamos decidido viver aqui, nós temos a responsabilidade de proteger a costa algarvia, não só para nós próprios e para as nossas famílias mas também para todos os visitantes e turistas”, conclui Laurinda Seabra “e temos o dever de pensar no bem-estar e na sustentabilidade das futuras gerações”.

A entrevista com Laurinda Seabra vai acontecer no diariOnline do Região Sul, no dia 2 de Janeiro de 2016, às 15:30 horas.




O ambiente é de todos

Temos o dever de pensar na sustentabilidade das futuras gerações

Entrevista com Laurinda Seabra    
            
Laurinda Seabra nasceu em Luanda, em 1955. Na puberdade foi viver para a África do Sul onde se licenciou em Engenharia Mecânica. Em 1975, ainda como estudante estagiária, começou a trabalhar numa empresa petrolífera.
É Mestre em Gestão de Negócios, pela Milpark Business School, e a sua carreira profissional foi feita dentro da indústria petroquímica, onde ocupou diversas funções, incluindo administração.
Em 2004 Laurinda Seabra decidiu mudar de rumo profissional e passou a ser a Directora da Empowerment Gatewey Consulting, uma empresa de consultadoria e empreendedorismo social, registada na Inglaterra e na África do Sul, sediada em Lagos.
Em 2012 funda uma associação, a ASMAA, a que preside.
Aos 15 anos de idade Laurinda começa por ser ativista pela defesa dos direitos humanos. Devido à sua carreira profissional compreendeu a necessidade de se proteger o ambiente e o seu ativismo estendeu-se a esta área.

O que é a ASMAA, quando nasceu e quais os seus objectivos?

ASMAA quer dizer Algarve Surf and Marine Activities Association. Foi registada no dia 3 de Dezembro de 2012. Tem como finalidade dinamizar a economia do Algarve usando o mar e as zonas costeiras como ferramentas de desenvolvimento turístico.
Cabe à ASMAA promover a coesão social e os valores democráticos, incluindo a defesa dos Direitos Humanos e das minorias, assim como lutar contra discriminações;
Cabe-lhe promover o diálogo e a colaboração intercultural, assim como participar na conceção e aplicação de políticas públicas, regionais e locais, especialmente as que afetam a sustentabilidade das pequenas e médias empresas, e cabe-lhe ainda promover o empreendedorismo responsável, especialmente nos sectores do surf e outras atividades englobados no sector marítimo.
Cabe à ASMAA também representar as empresas de atividades de surf e de outras atividades marítimas que lhe estão associadas e defender os seus direitos e legítimos interesses, assim como representar e defender os legítimos interesses dos turistas, visitantes e residentes que estão associados.
Esta associação pretende também defender o ambiente e refrear as zonas costeiras contra o incremento desajustado e desenfreado de construções urbanísticas.
Uma das atividades da ASMAA, neste momento, é dar a conhecer a sua luta contra a exploração de petróleo na costa Algarvia e Oeste e sensibilizar as pessoas para a nossa causa, desenvolver esforços no sentido de, não só prevenir mas também impedir, a contaminação do mar e praias, assim como impedir outros danos ambientais;
Está nos nossos objetivos desenvolver esforços no sentido de impedir que se continue a encaminhar para o mar e zonas adjacentes, os esgotos domésticos e de explorações agropecuárias.
 A ASMAA pretende ainda proteger os espaços verdes, pressionando as autoridades competentes a obrigar os madeireiros, aquando do abate de árvores para a indústria da celulose, a recolher os excedentes não aproveitados das árvores, com o exclusivo propósito de contribuir para a diminuição de fogos florestais.
Pretendemos ainda incentivar e formar pessoas interessadas no aproveitamento dos resíduos florestais como elemento fundamental de compostagem por meio de trituração mecanizada.

O que aconteceu em Julho de 2015 que tornou a situação da exploração de petróleo no Algarve mais alarmante?

Em Julho de 2015 foram publicados na internet, na página oficial da organização do governo responsável pela área do petróleo e gás natural, ENMC (http:/enmc.pt), contratos entre o governo e empresas petrolíferas, já realizados. Nós analisámos os contratos e pedimos um parecer jurídico que nos disse que os benefícios para Portugal eram muito poucos, ou quase nulos, e que traziam muitos riscos.
Estes contractos, publicados em Julho de 2015, eram para concessões no mar (“offshore”). Mas, em Setembro, a ENMC publicou dois novos contratos para o Algarve, desta vez, relativos a concessões em terra, com os nomes de Tavira e Aljezur.
Se estávamos preocupados com as explorações no mar, quando percebemos que estes novos contratos vão deixar entrar no Algarve as tecnologias de “fracking”, então a situação tornou-se muito mais séria, porque se há riscos na exploração no “offshore”, os riscos que o processo de “fracking” traz são muito maiores e têm impactos negativos permanentes.

O que é o “fracking” e quais os perigos desta técnica para as regiões onde ela é utilizada?
“Fracking”, “fraccing” ou “fracing” é uma técnica usada para libertar gás natural ou outras substâncias para a extração e utilização econômica.
O fraturamento hidráulico ou “hydraulic fracturing” é a propagação de fraturas numa camada de rocha por um fluido pressurizado. Algumas fraturas hidráulicas formam-se naturalmente e podem criar canais com petróleo ou gás que vêm de reservatórios de rochas.
Para fragmentar a rocha são usados tubos que contém água e químicos que fazem pressão sobre a rocha até quebrarem ou fraturarem a rocha. É como um mini terremoto. Pela porosidade, injeta-se também areia em quantidade suficiente para manter o canal aberto e permitir a condução do gás. O “fracturing” pode provocar impactos ambientais sérios, com prejuízo para a saúde humana pela contaminação dos canais subterrâneos e por causar danos na qualidade do ar porque provoca a migração de gases e produtos químicos para a superfície.
Na Europa o “fracking” está proibido em alguns países e nos EUA há um intenso debate cercando a exploração por “fracking” devido aos danos já causados.
Este tipo de extração agride gravemente o meio ambiente por se tratar de um processo que consiste na perfuração e injeção de fluídos químicos no solo para elevar a pressão, fazendo com que haja fratura das rochas e a liberação do gás natural. Nos fluídos usados existem cerca de 600 produtos tóxicos, incluindo agentes cancerígenos. Cada poço pode ser fraturado até 12 vezes e são necessários, de 400 a 600 caminhões tanque de água, para cada operação. O fluido que é usado é deixado a céu aberto para evaporar, tornando o ar contaminado e contribuindo para o surgimento de chuvas ácidas.
Durante o processo, as águas subterrâneas próximas que são usadas para abastecer as cidades da região, também podem ficar poluídas. Houve mais de 14 mil casos de contaminação próximos a áreas de perfuração, já confirmados.
A exploração do gás é muito comum nos EUA, onde existem mais de 500 mil poços ativos. As toxinas que vazam durante o processo estão a causar a morte de diversas espécies aquáticas, pois prejudicam a qualidade da água, tornam-na mais ácida, o que provoca graves lesões nos peixes.
Este processo de extração está sendo fortemente questionado por um grupo de ambientalistas e pela sociedade civil que querem a suspensão imediata desta prática. Um estudo publicado recentemente afirma que o “fracking” pode estar ligado à presença de terremotos. Conforme uma das nossas pesquisas, pelo menos 109 terremotos foram registrados no estado de Ohio (EUA), num período de 14 meses. Os fenómenos teriam começado após 13 dias do início das fraturas hidráulicas na região.
Neste momento a ASMAA já tem testemunhos de 16974 pessoas, dos Estados Unidos, relativos aos impactos negativos do “fracking” nas suas vidas.

Como funciona uma plataforma de petróleo e quais os perigos para a costa algarvia se aqui se instalarem plataformas de petróleo?

Existem dois tipos principais de plataformas de petróleo no mar: as de perfuração e as de produção. As de perfuração servem para encontrar petróleo em poços ainda não explorados e inicia-se com uma série de pesquisas geológicas e geofísicas que localizam bacias promissoras e analisam os melhores pontos para as perfurar.
As plataformas de produção aparecem quando um poço já foi descoberto e está pronto para ser explorado. São elas que efetivamente extraem o petróleo localizado no fundo do mar, levando-o à superfície, onde este é separado de outros compostos, como água e gás.
Dependendo da profundidade em que se encontra o poço, podem ser construídos dois tipos de plataforma de produção: as fixas e as flutuantes (chamadas de semi-submersíveis).
As fixas são instaladas em águas rasas (até 180 metros) e ficam ligadas ao subsolo oceânico por um grande "pilar".
As flutuantes possuem cascos como os de um navio e servem para explorar poços que se localizam em lugares muito profundos.
Os danos, vou referir por áreas específicas:
Relativamente à natureza do Algarve, o ambiente marinho desta região inclui muitos ecossistemas únicos e frágeis, é o lar de muitas espécies, incluindo aves marinhas, baleias e golfinhos entre elas. Um desastre de petróleo ou gás vai deixar a flora e a fauna marinha totalmente vulneráveis e até destruídas pelos efeitos tóxicos.
A pesca comercial é um dos nossos mecanismos económicos que precisa de ser preservado e a pesca desportiva é uma das atividades mais populares na região. Um desastre de petróleo ou de gás no mar irá impactar diretamente nas nossas indústrias de pesca, resultando em perdas de valiosos recursos e também de muitos postos de trabalho.
As zonas costeiras que estão ainda imaculadas, onde ainda está presente a vida selvagem, atrai dezenas de milhares de turistas por ano, injetando um impulso económico para a região. O perigo de um desastre de petróleo terá um papel negativo na decisão dos turistas para visitarem o Algarve.
Esta região oferece oportunidades sem paralelo para desportos marítimos e atividades de aventura, como o “surf”, caiaque, “windsurf”, “jet ski”, mergulho e passeios de barco, entre outros. Um desastre de petróleo ou de gás no mar, invariavelmente vai ter um impacto negativo nas muitas empresas que prestam estes servidos e para todas as organizações e indivíduos que gostam da praia, do mar e do sol que caracterizam o Algarve.
Os bens e recursos naturais do Algarve devem ser protegidos, e não, vendidos para serem explorados por empresas estrangeiras. Não podemos expô-los ao perigo de serem destruídos e daí resultar a perca da nossa sustentabilidade, só por causa da exploração do petróleo no mar Algarvio sem medidas de segurança adequadas e asseguradas.
Quanto ao clima, que também tanto o caracteriza o Algarve, os impactos climáticos devido a exploração de petróleo e gás são desastrosos.
Portugal deve investir em soluções de energia limpa e ecológica em vez de investir na extração das últimas gotas de petróleo dos confins da terra e do mar. Devemos ser pioneiros na área climática, e não, "maníacos" dos fósseis.
O modo de vida na zona costeira do Algarve está em perigo. Esta é uma parte fundamental do “viver no Algarve” e, sejamos nós algarvios ou tenhamos decidido viver aqui, temos a responsabilidade de proteger a costa algarvia, não só para nós próprios e para as nossas famílias, mas também para todos os visitantes e turistas, assim como temos o dever de pensar no bem-estar e na sustentabilidade das futuras gerações.

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