domingo, 25 de outubro de 2009

Jornalismo - momentos marcantes - Casa das Artes de Tavira

in Postal do Algarve
Junho de 2007



Casa das Artes de Tavira abriu a sua época de exposições







Exposição colectiva de fotografia, escultura, desenho, gravura e vídeo






Tibéria Rosa (à esquerda) e Nada Mandelbaum





Nada Mandelbaum com fotografia analógica a cores e a preto e branco


A Casa das Artes de Tavira abriu a sua época de exposições com uma exposição de fotografia da alemã Nada Mandelbaum e com a dupla de escultores portugueses Miguel Martinho e José Macedo Rodrigues no passado sábado pelas 21 e 30 horas.
Nada Mandelbaum nasceu em Dusseldorf /Alemanha onde estudou dança clássica nas escolas de bailado von Bulow e Pergel, a partir dos anos 80 Modern-Dance, Jazz, Afro, Dança Teatro e Butoh com Kazuo Ohno no Japão. Em 1979 licenciou-se em Arte na Escola Superior de Pedagogia em Neuss/Alemanha. Desde 1985 fez espectáculos de dança em Dusseldorf, Mettmann, Ratingen, Bruxelas e Nova York. Em Portugal fez performances na Galeria Trem, em Faro, na Quinta da Arte e na Casa das Artes em Tavira. Faz fotografia, pintura e cerâmica deste 1983.
A sua máquina fotográfica é um prolongamento de si própria. Através dela fixa momentos que são etapas da história da região onde vive actualmente, dos locais e por onde passa quotidianamente. A actual exposição é formada por um conjunto de fotografias em formato analógico seleccionadas entre muitas que foi tirando ao longo dos anos 2002/2003 e mostram a transformação da paisagem ao lado da EN 125, entre Faro e Olhão. São apresentadas fotografias a cores e a preto e branco. “A beleza é a cores, o mundo antigo do Algarve, os valores arquitectónicos, as casas antigas que nos atraem e vão desaparecer”, revela a artista ao Postal do Algarve, “depois vem o preto e branco que mostra o que vai aparecer a seguir: o betão, os gradeamentos, o mundo da industrialização que não têm a beleza da arquitectura tradicional que está desaparecendo e que está apresentada a cores.” A artista neste momento está trabalhando sobretudo em pintura, tem outra série de fotografias pronta a ser mostrada mas ainda não sabe exactamente onde as vai apresentar.

Miguel Martinho “mais uma tentativa de chamar a atenção para o estado do mundo”


Miguel Martinho, José Delgado Martins e José Macedo Rodrigues


Outra sala é ocupada pelos escultores Miguel Martinho e José Macedo Rodrigues com um projecto de escultura, gravura, desenho e vídeo intitulado “O pano a cair azul”.
Miguel Martinho realizou em 2003 a exposição “Redes Neuronais Artificiais” na Casa das Artes de Tavira, participou em 2005 na XIV Galeria Aberta do Museu Jorge Vieira em Beja e na Bienal de Gravura do Douro em Alijó. Em 2006 foi convidado a participar com um trabalho de vídeo na exposição 50 anos de Gravura em Portugal, Tavira/Lisboa.
José Macedo Rodrigues conta com cerca de 40 exposições colectivas e alguns prémios. Além das colecções privadas está representado em algumas institucionais: Centro de Arte Contemporânea – Palácio da Cerca (Almada), Caixa de Crédito Agrícola de Estremoz, Direcção Regional dos Assuntos Culturais – Secretaria Regional do Turismo e Cultura Funchal, Casa do Sal – Angra do Heroísmo, Casa da Cultura do Município de Santa Cruz – Madeira, Centro Cultural John dos Passos – Madeira.
Para Miguel Martinho há a necessidade de apelar à reflexão sobre a evolução, sobre o que o Ser Humano continua a fazer ao mundo em que vive. “Milhares de anos de evolução tecnológica entregues à sofisticação do fim. A cada dia que passa o ar que respiramos torna-se mais letal. Aparente inocência de insidiosa mercadoria, formatando mentalidades. Energia aplicada no desenvolvimento bélico é negra, visa a destruição. Já conseguimos abalar o equilíbrio precário de demasiados ecossistemas.” É o modo como anuncia o conjunto dos seus trabalhos.
Os dois escultores colaboram em termos técnicos, juntam-se uma vez por mês para desenvolverem trabalhos de fundição em conjunto mas cada um tem o seu caminho individual e os seus objectivos pessoais.
“Em certas coisas trabalhamos juntos, nós fundimos juntos”, explica Miguel Martinho ao Postal do Algarve, “isto é fundido pelos próprios. O facto de se dominar a tecnologia da fundição vai permitir que o resultado seja totalmente diferente do que se fosse uma peça feita e mandada passar a gesso por outras pessoas.” Para Miguel faz todo o sentido que a arte seja uma reflexão sobre a sociedade “nós vivemos tempos que são terríveis e isto no fundo é mais uma tentativa de chamar a atenção para o estado do mundo”, esclarece o escultor “isto no fundo são ruínas do futuro. Estes cavalos são os quatro cavalos do Apocalipse. Os nomes dos canhões são todos muito queridos. Isto é a ironizar no fundo com o grande flagelo que é a guerra e se passa todos os dias no mundo.”

José Macedo Rodrigues em busca de si próprio no universo medieval



José Macedo Rodrigues percorre um caminho diferente dentro da arte. “O vocabulário dos símbolos compõe-se, diversifica-se, segundos critérios de representação gráfica e formal, onde um tipo de comunicação visual se gera, se desenvolve, e se movimenta. Articula-se não em ordem a uma quantidade de registos repetidos, mas segundo uma desfocagem do mundo concreto, a determinação de um efeito global de imagens eficazmente activas, semiabstractas, abertas ao controlo do olhar, que nos fornece desta realidade uma perspectiva dinâmica, e onde as referências anteriores do visível vão perdendo o nexo narrativo”. Assim define o escultor o trabalho que expõe.
“A pretensão de fazer este tipo de objectos, desenhos ou esculturas, não é propriamente transmitir uma mensagem, faço-os para mim, é o mundo que eu invento para mim”, confessa o escultor ao Postal do Algarve, “é uma busca de uma imagética, neste caso particular com a ajuda de símbolos, de ícones na construção de uma linguagem mas para mim”. O artista tem um trabalho muito mais individualista “em busca de mim próprio” e é fascinado pelos ambientes, símbolos e mistérios medievais.
Esta exposição está patente ao público, todos os dias, das 21 e 30 horas às 00 e 30 horas, até dia 20 do corrente mês.

Paula Ferro

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