quinta-feira, 18 de março de 2010

jornalismo - Isabel Baraona


in ".S" - caderno de artes do "Postal do Algarve"


Janeiro 2010




“folhas, páginas e outros desenhos” de Isabel Baraona

Isabel Baraona nasceu em 1974 em Cascais. Em 1996 conclui o curso de Introdução à Escultura, Pintura, Vidro e Desenho pelo Centro de Arte e Comunicação Visual (AR.CO), em Lisboa, e em 1997 o bacharelato em Artes Decorativas pela Escola Superior de Artes Decorativas na Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, em Lisboa. Em 2002 licencia-se em Pintura e Pesquisa Tridimensional na Ecole Nationale Supérieur dês Artes de La Cambre, em Bruxelas, Bélgica, e em 2006 faz uma pós-graduação em Pintura pela faculdade de Belas Artes de Lisboa. Desde 2003, é docente na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha. Começa a expor em 2001.

Uma narrativa mental construída através de imagens

“folhas, páginas e outros desenhos” tem estado patente ao público, e regressa, de 19 de Janeiro a 6 de Fevereiro de 2010, à Artadentro, em Faro. Trata-se de uma exposição de livros, feitos em desenho, e do processo de construção desses mesmos livros, da autoria de Isabel Baraona.

Isabel Baraona é uma artista cuja matéria de expressão é o desenho estruturado em forma de objecto-livro. Não se trata de catálogos ou compilações aleatórias de desenhos, são desenhos feitos com o objectivo de serem livros. A sua organização é ponderada, propositada, significativa, com uma sequência que conduz a uma leitura típica da narrativa. Existem estórias que se cruzam, e personagens que aparecem em várias estórias. “Estamos a falar de uma narrativa mental que é construída através de imagens”, elucida Isabel Baraona, “tenho personagens em mente e a intuição do que eles vão fazer, mas não sou escritora, não construo estes livros com base numa narrativa com princípio, meio e fim. Vou elaborando. Há livros que foram feitos em simultâneo, o que provavelmente dá azo a que personagens se repitam”.

Contar estórias sempre esteve presente no seu trabalho, “tenho séries de desenhos anteriores sobre os contos infantis, sobre os contos de fados e as mitologias”, mas agora, os desenhos são “feitos para serem impressos e apresentados em livro”.

A palavra também existe, mas aqui “é uma pontuação, é uma imagem. É uma palavra que é desenhada”, explica a artista, “as palavras acontecem enquanto desenho, enquanto caligrafia, enquanto pequenas pistas para as cenas de inter-acção entre os personagens, mas, evidentemente que não estamos a falar de prosa, nem de poesia, nem da leitura de um texto enquanto texto”.

Um livro para o qual eu espreito

Ao todo são cinco livros. O processo durou dois anos. “Agora que concluí este projecto dos livros, achei que seria interessante confrontar a colecção de livros com os desenhos originais”.

Um dos aspectos atraentes desta exposição é o facto de se poder comparar “a escala em que o desenho está reproduzido com a escala em que o desenho inicialmente foi feito” e o modo como a artista foi pensando, adaptando, e elaborando. “No processo criativo há sempre surpresas e também coisas que nós podemos planear muito, mas não há um domínio total”.

Outro aspecto a relevar é a aproximação do desenho, o carácter intimista como este nos é oferecido, “pelo facto de ser livro, uma forma que nos obriga a um contacto directo, poder-se-ia dizer ‘de mão em mão’ ou até ‘mãos nas mãos’, que nos obriga a observá-lo de um modo diferente do que seria” apresentado em exposição. Mesmo com os desenhos ordenados do mesmo modo, o facto de estarem expostos cria uma relação muito diferente do manusear um livro “que nos obriga a lê-lo. Aí reside toda a diferença, força, presença”. Por ser em livro e por ser “deste tamanho, intimista, um objecto que cabe nas mãos, quase de bolso. Pode-se esconder, guardar e é fácil manipular”. A escala do livro casa-se com o intimismo da acção dos personagens. “Não fazia muito sentido ser um livro grande, do qual tenho que me distanciar para ver. Faz sentido ser um livro para o qual eu espreito”.

Paula Ferro

Sem comentários: