quinta-feira, 18 de março de 2010

jornalismo - Rico Sequeira









in ".S" - caderno de artes do "Postal do Algarve"




Janeiro 2010





Rico Sequeira expõe no Palácio da Galeria













Referências que se misturam criando um universo de universos




Rico Sequeira nasceu em Portugal, em 1954. Estudou no Luxemburgo, nos EUA. O convívio com outros artistas foi sempre uma constante. Nomes como António Inverno, João Vieira, João Botelho, Malagatana… povoam as suas histórias de vida e de aprendizagem fluida.




Foi músico profissional mas vendeu toda a aparelhagem para se dedicar à pintura. “Retirou-se” para o Museu do Prado, em Madrid, onde passava os dias a desenhar as obras de Goya. Isso marcou-o para sempre no modo de olhar.




O seu percurso expositivo inicia-se em 1982 e regista-se em vários países, entre os quais se destaca Portugal, Espanha, França, Alemanha, Luxemburgo, Brasil e Argentina. Entre exposições individuais e colectivas em galerias, foi convidado a expor em vários museus, como o Museu de Payerne (Suiça) e o Museu Meistermann (Alemanha) e também em Feiras e Salões Internacionais de Arte, como sejam a ARCO, a FAC e no Salão Grands et Jeunes.




Ser coleccionador é para Rico Sequeira uma forma de estar na sua arte. Colecciona, entre outras coisas, originais de banda desenhada que integram vários dos seus projectos como o de Tavira.




Serve-se de originais de outros artistas. “A obra nasce do encontro de objectos. Qualquer coisa que vejo: papéis bonitos, folhas de provas mal impressas… interessam-me. É um trabalho que não foi feito por mim, mas que tem, graficamente, uma estrutura muito importante e que eu introduzo no meu trabalho”.




É também escultor. “Gosto de escultura mas não sou escultor de partir pedra”. Busca o caminho mais eficaz. “Recorto o tecido, mando cozer, encho de algodão e faço o molde. As coisas têm que ser muito práticas e muito simples”.




O seu trabalho incide essencialmente sobre a pintura e o desenho, duas técnicas que frequentemente se confrontam embora algumas vezes se consigam conciliar, quando realmente se conseguem esbater e misturar, uma na outra, dentro da mesma obra.




“Sempre gostei muito de desenhar”. Diz não dar qualquer importância à cor. “Essa parte da pintura pinta, pinta, é um bocado animalesco”. Rico é mais suave, mais concebível, no seu trabalho, e o verdadeiramente importante é o desenho. “As cores são bonitas mas se estiver uma paleta ali, o que me vier à mão é que eu ponho. O Matisse já dizia que quando o desenho está bem construído, está tudo bem!”




No entanto, Rico Sequeira pinta, e não só pinta, como só usa as tintas que faz. “Compro o pigmento e faço as minhas cores. Assim dou-lhes a dimensão que quero”.




O seu traço é gestualista e cria um efeito plástico de aleatoriedade, no entanto, é o resultado de uma súmula de gestos que já contém em si o pensado. “Gostava de ser um pintor abstracto mas não consigo”, confessa. E enceta uma conversa sobre o poder do escondido, do que está por baixo da tela que se pinta e de como esse escondido faz parte da própria obra.




Usa frequentemente técnicas mistas com colagens. Estas são a ponte entre a pintura e a originalidade da banda desenhada.


“Hops! Tom & Rico”: BD de Rico Sequeira

“’Hops! Tom & Rico’: BD de Rico Sequeira” é a exposição que se encontra patente ao público no Palácio da Galeria, em Tavira, até ao dia 30 de Janeiro de 2010.

Trata-se de um projecto antigo de Rico Sequeira que aqui se materializou. Uma espécie de “bomba-informação” provinda de milhentos lugares. Referências que se misturam criando um universo de universos que se aglutinam através do génio criador do artista, unidade da multiplicidade que é o mundo, destacando um lado onírico quase vivo, acrescentado pelo apelo à participação na criação conjunta.

Esta exposição oferece inúmeros encontros de opostos: o desenho e a pintura; a BD e a arte; a palavra que se exprime através da escrita e da escultura, nas onomatopeias, onde o som se congela em forma, apelando a outro modo de olhar esteticamente; a mostra do que existe, do que é, como que “sagrado”, os valiosos originais que o artista se esforça por encontrar por esse mundo fora, “profanados” por uma nova criação que não anula a primeira, antes lhe acrescenta o fluir da vida e do mundo inesgotado e interminado. E no valor estético tudo se equipara, os originais de BD e as provas de impressão mal feita. O que interessa é a estrutura gráfica que estimula o artista a ir mais além na expressão de si próprio como elo harmonizador da multiplicidade.

Para além da vertente informativa (exposição de partes da sua colecção, e das obras de sua autoria apresentadas em diversos formatos), há um lufar de cor em gritaria, um ar de festa e infância à solta e uma proposta num painel: “Estes quadros são para ser pintados pelas pessoas que visitam a exposição. Podem desenhar, escrever”… explica Rico, “depois faço uma intervenção, passo verniz e estes quadros vão constar, no próximo ano, na exposição de Schengen”, no Luxemburgo. E, os traços de quem por aqui passa, misturam-se com o traço do fluir da história, para além-fronteiras, compondo já, as próximas obras de Rico Sequeira.

Paula Ferro



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