domingo, 28 de janeiro de 2018

Entrevista com Petra Frey

Ciclo de entrevistas o ambiente é de todos realizadas pelo Núcleo de Jornalismo da Associação Min-Arifa no Jornal diariOnline - Região Sul
Jornalista: Paula Ferro


O ambiente é de todos

Tudo o que existe é de todos




Entrevista com Petra Frey
A terceira entrevista do ciclo de entrevistas intitulado “o ambiente é de todos” que o Núcleo de Jornalismo da Associação Min-Arifa está a realizar no diariOnline do Região Sul, é com Petra Frey, cofundadora do movimento Tavira em Transição que desde 2008 é comerciante exclusivamente de produtos biológicos, em Tavira.
“Os princípios do Tavira em Transição nascem nos valores da Permacultura. A Permacultura respeita e valoriza aquilo que a terra tem e os métodos da agricultura são os mais naturais. Tudo é reaproveitado”, esclarece Petra Frey, “a filosofia da Permacultura estende-se para lá da agricultura, estende-se à vida quotidiana. É importante não criar lixo e por isso há que reaproveitar tudo o que há. Outro valor importante é o da partilha. Temos que aproveitar tudo o que existe e tudo o que existe é de todos”.
Neste preciso momento, a principal luta do Tavira em Transição “é contra o fracking e as plataformas de petróleo no Algarve. Temos feito algumas acções, sendo as principais informar os cidadãos que não estão ainda despertos para os malefícios de ambas as técnicas usadas na exploração de petróleo e também para as atitudes que o governo tem vindo a tomar no sentido da exploração do petróleo nesta zona, neste momento”, continua Petra, porque “estão a ser assinados contratos sem consultar a população e até sem consultar os próprios autarcas, o que é muito preocupante porque isto mostra que não existe poder local. Como é possível que o governo esteja tão centralizado? Como é possível que seja em gabinetes e longe da verdadeira realidade local que as decisões sejam tomadas? Como é possível que estejam a vender a ‘nossa terra’ sem nos consultar?”
Petra Frey é cofundadora da ARBIO, Associação dos Retalhistas de Produtos Biológicos em Portugal e explica: “A ARBIO defende que os produtos biológicos deviam ter o IVA mais baixo, a 6%, para que estes produtos sejam mais acessíveis à população porque ao contrário da agricultura convencional não trazem o mesmo tipo de gastos ao Estado na medida em que evitam que exista poluição”.

A entrevista com Petra Frey vai acontecer no diariOnline do Região Sul no dia 18 de Dezembro de 2015, às 15:15 horas.



Tudo o que existe é de todos

Petra Frey nasceu na Alemanha em 1966. Estudou línguas em Berlin. Visitou Tavira, pela primeira vez, em 1989. A partir de aí, esta cidade passou a ser um local de visitas frequentes até que decidiu, em 2001, residir nesta zona.
Entre 2004 e 2007, Petra Frey foi guia turística na Câmara Obscura, em Tavira. Em 2008 abriu um estabelecimento comercial, perto do Mercado Municipal de Tavira, para vender exclusivamente produtos biológicos.
Petra Frey é um dos elementos fundadores do Tavira em Transição, um movimento para a cidadania activa que se integra num outro movimento, a nível mundial, chamado Cidades em Transição que procura promover uma vida sustentável e tem como base os princípios da permacultura. Petra é ainda cofundadora da ARBIO (Associação dos Retalhistas de Produtos Biológicos em Portugal).

Porque te tornaste cofundadora do movimento Tavira em Transição?
Porque vivo em Tavira tal como os outros cidadãos que criaram e que participam neste movimento e é aqui, onde nós estamos, que devemos agir. Se queremos alterar os hábitos e mentalidades no sentido de construirmos um mundo melhor para todos, temos que começar por nós próprios e pelo meio envolvente, pelo local onde nos encontramos.
Há muitos valores que têm que ser alterados mas o mais importante de todos é recobrar o respeito pelo planeta Terra. Nós esquecemo-nos que somos apenas uma pequena migalha no meio do Universo e a primeira coisa a alterar é a arrogância do ser humano.
O movimento Tavira em Transição é um movimento de cidadania activa onde todos trabalham voluntariamente.
O voluntariado enriquece a própria pessoa que o faz enquanto, neste caso, enriquece o meio-ambiente.
Nós temos um projecto na Mata de Santa Rita, onde retiramos acácias, que são plantas invasoras, e plantamos árvores autóctones. A seguir há sempre um piquenique onde cada um traz alguma coisa e todos partilhamos o que trazemos. Precisamos de reaprender a partilhar e estas pequenas acções vão gerando hábitos comunitários.
Os princípios do Tavira em Transição nascem nos valores da permacultura. A Permacultura respeita e valoriza aquilo que a terra tem e os métodos da agricultura são os mais naturais. Tudo é reaproveitado.
A filosofia da permacultura estende-se para lá da agricultura, estende-se à vida quotidiana. É importante não criar lixo e por isso há que reaproveitar tudo o que há. Outro valor importante é o da partilha. Temos que aproveitar tudo o que existe e tudo o que existe é de todos.
Outras acções deste movimento focam-se muito na transmissão deste tipo de valores, na prática dos mesmos, o mais possível, e em mostrar casos de sucesso onde estes valores são aplicados em comunidades.

Qual a principal luta do Tavira em Transição neste momento e que acções está a promover nesse sentido?
Neste preciso momento é a luta contra o fracking e as plataformas de petróleo no Algarve. Temos feito algumas acções, sendo as principais, informar os cidadãos que não estão ainda despertos para os malefícios de ambas as técnicas para a exploração de petróleo e também para as atitudes que o governo tem vindo a tomar no sentido da exploração do petróleo nesta zona, neste momento, quando está mais que provado que temos que deixar 80% do petróleo onde ele está, ou seja, no subsolo, senão os nossos filhos e netos vão ter que pagar muito caro pela nossa permissividade e pelos nossos erros de hoje.
Estão a ser assinados contratos sem consultar a população e até sem consultar os próprios autarcas, o que é muito preocupante porque isto mostra que não existe poder local. Como é possível que o governo esteja tão centralizado? Como é possível que seja em gabinetes e longe da verdadeira realidade local que as decisões sejam tomadas? Como é possível que estejam a vender a “nossa terra” sem nos consultar?
E tudo isto num local turístico, rico em ofertas e em diferentes áreas, com tanto sol que poderia bem ser aproveitado como fonte de energia privilegiada.
Estamos a colaborar com outras associações na recolha de assinaturas para petições e em acções de esclarecimento.
Pretendemos incentivar os cidadãos e os autarcas para, todos juntos, reagirmos contra estes contratos que estão a ser feitos entre o governo e companhias petrolíferas sem consultar autarcas nem cidadãos, repito, o que é, no mínimo, uma grande falta de respeito por tudo e por todos.

És defensora dos produtos biológicos. Porquê e em que é que isso se liga aos valores do Tavira em Transição?
Porque opto por ter uma saúde não artificial. Quando comemos uma maçã provinda de uma macieira que foi desinfetada na fase da flor, o coração desta fruta, na minha opinião, já está envenenado, porque os químicos que lhe são aplicados afastam insectos e doenças da árvore, o que traz maior rentabilidade à macieira mas, ao mesmo tempo, pode trazer doenças e alergias ao consumidor dessa fruta. Uma maçã biológica, para além de ser mais saborosa, é mais rica nos seus nutrientes, logo é mais saudável e não polui a terra. É por isso que não percebo porque é que os agricultores de produtos biológicos têm que ser certificados por uma entidade a quem têm que pagar pela sua certificação enquanto os agricultores convencionais e que produzem em grande escala não têm que pagar por estarem a poluir a terra e o ambiente. Deveria ser ao contrário, até porque os agricultores biológicos têm mais trabalho e menor rentabilidade.
Sou cofundadora da ARBIO, Associação dos Retalhistas de Produtos Biológicos em Portugal. Esta associação promove a produção biológica nacional embora também importe produtos biológicos de outros locais. A ARBIO defende que os produtos biológicos deviam ter o IVA mais baixo, a 6%, para que estes produtos sejam mais acessíveis à população porque ao contrário da agricultura convencional não trazem o mesmo tipo de gastos ao Estado na medida em que evitam que exista poluição.
O Tavira em Transição e a agricultura biológica provém da mesma filosofia de vida: respeitar a natureza, o ambiente os seres vivos. A filosofia básica do Tavira em Transição assenta nos valores da permacultura que é ainda mais rígida nas suas regras do que a agricultura biológica, ou seja, a agricultura biológica está a caminho para a Permacultura, por isso é que a horta que criámos na Escola Secundária de Tavira é feita com os princípios da agricultura biológica, no sentido de se dar um passo em frente em direcção à permacultura.



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