Junho de 2007
Casa das Artes de Tavira abriu a sua época de exposições

Exposição colectiva de fotografia, escultura, desenho, gravura e vídeo
Tibéria Rosa (à esquerda) e Nada Mandelbaum
Nada Mandelbaum com fotografia analógica a cores e a preto e branco
A Casa das Artes de Tavira abriu a sua época de exposições com uma exposição de fotografia da alemã Nada Mandelbaum e com a dupla de escultores portugueses Miguel Martinho e José Macedo Rodrigues no passado sábado pelas 21 e 30 horas.
Nada Mandelbaum nasceu em Dusseldorf /Alemanha onde estudou dança clássica nas escolas de bailado von Bulow e Pergel, a partir dos anos 80 Modern-Dance, Jazz, Afro, Dança Teatro e Butoh com Kazuo Ohno no Japão. Em 1979 licenciou-se em Arte na Escola Superior de Pedagogia em Neuss/Alemanha. Desde 1985 fez espectáculos de dança em Dusseldorf, Mettmann, Ratingen, Bruxelas e Nova York. Em Portugal fez performances na Galeria Trem, em Faro, na Quinta da Arte e na Casa das Artes em Tavira. Faz fotografia, pintura e cerâmica deste 1983.
A sua máquina fotográfica é um prolongamento de si própria. Através dela fixa momentos que são etapas da história da região onde vive actualmente, dos locais e por onde passa quotidianamente. A actual exposição é formada por um conjunto de fotografias em formato analógico seleccionadas entre muitas que foi tirando ao longo dos anos 2002/2003 e mostram a transformação da paisagem ao lado da EN 125, entre Faro e Olhão. São apresentadas fotografias a cores e a preto e branco. “A beleza é a cores, o mundo antigo do Algarve, os valores arquitectónicos, as casas antigas que nos atraem e vão desaparecer”, revela a artista ao Postal do Algarve, “depois vem o preto e branco que mostra o que vai aparecer a seguir: o betão, os gradeamentos, o mundo da industrialização que não têm a beleza da arquitectura tradicional que está desaparecendo e que está apresentada a cores.” A artista neste momento está trabalhando sobretudo em pintura, tem outra série de fotografias pronta a ser mostrada mas ainda não sabe exactamente onde as vai apresentar.
Miguel Martinho “mais uma tentativa de chamar a atenção para o estado do mundo”
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Miguel Martinho, José Delgado Martins e José Macedo Rodrigues
Outra sala é ocupada pelos escultores Miguel Martinho e José Macedo Rodrigues com um projecto de escultura, gravura, desenho e vídeo intitulado “O pano a cair azul”.
Miguel Martinho realizou em 2003 a exposição “Redes Neuronais Artificiais” na Casa das Artes de Tavira, participou em 2005 na XIV Galeria Aberta do Museu Jorge Vieira em Beja e na Bienal de Gravura do Douro em Alijó. Em 2006 foi convidado a participar com um trabalho de vídeo na exposição 50 anos de Gravura em Portugal, Tavira/Lisboa.
José Macedo Rodrigues conta com cerca de 40 exposições colectivas e alguns prémios. Além das colecções privadas está representado em algumas institucionais: Centro de Arte Contemporânea – Palácio da Cerca (Almada), Caixa de Crédito Agrícola de Estremoz, Direcção Regional dos Assuntos Culturais – Secretaria Regional do Turismo e Cultura Funchal, Casa do Sal – Angra do Heroísmo, Casa da Cultura do Município de Santa Cruz – Madeira, Centro Cultural John dos Passos – Madeira.
Para Miguel Martinho há a necessidade de apelar à reflexão sobre a evolução, sobre o que o Ser Humano continua a fazer ao mundo em que vive. “Milhares de anos de evolução tecnológica entregues à sofisticação do fim. A cada dia que passa o ar que respiramos torna-se mais letal. Aparente inocência de insidiosa mercadoria, formatando mentalidades. Energia aplicada no desenvolvimento bélico é negra, visa a destruição. Já conseguimos abalar o equilíbrio precário de demasiados ecossistemas.” É o modo como anuncia o conjunto dos seus trabalhos.
Os dois escultores colaboram em termos técnicos, juntam-se uma vez por mês para desenvolverem trabalhos de fundição em conjunto mas cada um tem o seu caminho individual e os seus objectivos pessoais.
“Em certas coisas trabalhamos juntos, nós fundimos juntos”, explica Miguel Martinho ao Postal do Algarve, “isto é fundido pelos próprios. O facto de se dominar a tecnologia da fundição vai permitir que o resultado seja totalmente diferente do que se fosse uma peça feita e mandada passar a gesso por outras pessoas.” Para Miguel faz todo o sentido que a arte seja uma reflexão sobre a sociedade “nós vivemos tempos que são terríveis e isto no fundo é mais uma tentativa de chamar a atenção para o estado do mundo”, esclarece o escultor “isto no fundo são ruínas do futuro. Estes cavalos são os quatro cavalos do Apocalipse. Os nomes dos canhões são todos muito queridos. Isto é a ironizar no fundo com o grande flagelo que é a guerra e se passa todos os dias no mundo.”
José Macedo Rodrigues em busca de si próprio no universo medieval
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José Macedo Rodrigues percorre um caminho diferente dentro da arte. “O vocabulário dos símbolos compõe-se, diversifica-se, segundos critérios de representação gráfica e formal, onde um tipo de comunicação visual se gera, se desenvolve, e se movimenta. Articula-se não em ordem a uma quantidade de registos repetidos, mas segundo uma desfocagem do mundo concreto, a determinação de um efeito global de imagens eficazmente activas, semiabstractas, abertas ao controlo do olhar, que nos fornece desta realidade uma perspectiva dinâmica, e onde as referências anteriores do visível vão perdendo o nexo narrativo”. Assim define o escultor o trabalho que expõe.
“A pretensão de fazer este tipo de objectos, desenhos ou esculturas, não é propriamente transmitir uma mensagem, faço-os para mim, é o mundo que eu invento para mim”, confessa o escultor ao Postal do Algarve, “é uma busca de uma imagética, neste caso particular com a ajuda de símbolos, de ícones na construção de uma linguagem mas para mim”. O artista tem um trabalho muito mais individualista “em busca de mim próprio” e é fascinado pelos ambientes, símbolos e mistérios medievais.
Esta exposição está patente ao público, todos os dias, das 21 e 30 horas às 00 e 30 horas, até dia 20 do corrente mês.
Paula Ferro
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