domingo, 31 de agosto de 2008

Sobre a organização dos conteúdos do blog

Este blog fala sobre diversos temas:
1 -
O tema A Ponte com diversos sub-temas:
- Eu e A Ponte - onde apresento a história do grupo a partir do momento em que eu faço parte dele, a história do grupo vista pelos meus olhos, a partir do meu testemunho.
- Exposições e outras actividades de A Ponte - onde apresento fotos e decerto também comentários.
- Os artistas de A Ponte - exposições, actividades, incidentes, acontecimentos... relacionados com elementos do grupo individualmente ou em pequenos grupos casuais.
2 -
Outro tema será o meu trabalho artístico - individual, a vários níveis ou em várias áreas, com sub-temas também:
- Exposições minhas individuais e/ou com outros elementos que não são de A Ponte.
- Conjuntos de fotos que já apresentei ou que escolhi e guardo mas ainda não foram expostas. Já existem mensagens neste blog no âmbito deste tema.
- Poesias e/ou prosa poética que tenho escrito ou que vou escrevendo. Já inseri material tanto de poesia como de prosa poética.
- Digitalizações de desenhos, pinturas e/ou fotografias de trabalhos com relevo. Já se encontram desenhos do meu Diário do Traço.
3 -
Jornalismo
Dentro do jornalismo também vou ter que criar sub-temas:
- Entrevistas e entrevistas/reportagens essencialmente de artistas das áreas mais variadas dentro do campo das artes, relacionadas com as artes e a cultura mas também pode acontecer entrevistar pessoas fora dessa área que me pareça importante mostrar, como é o caso da entrevista ao actual Bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho e Pinto.
- Eventos importantes onde já se encontra, neste momento, a reportagem feita a propósito da exposição de Joana Vasconcelos no Palácio da Galeria em Tavira.
Trata-se de eventos que tratei como jornalista e que considero de relevo.
- Eventos mais discretos são isso mesmo, independentemente de apresentarem muita ou pouca qualidade, têm a sua importância e são discretos, por razões de ordem voluntária ou não, não chegam a um grande número de público.
- Momentos marcantes onde se encontram já neste momento o espectáculo de JP Simões no CAPA (todos os eventos organizados pelo CAPA a que assisti atá agora são marcantes, tenho mais para publicar no blog), o espectáculo da Viviane em Tavira e os Marenostrum nos Artistas em Faro.
Momentos marcantes pois são momentos marcantes, são momentos que marcam. Há aqueles eventos a que a gente vai porque é importante ir, que são referencias. Dizem-nos mais, dizem-nos menos... a gente vai e tal... pois... devemos ir.
Mas momentos marcantes são aqueles que nos marcam e por isso a gente guarda na memória juntamente com um certo número de emoções. São momentos que já se foram mas que ainda permanecem, de algum modo, vivos dentro de nós.
- Outros temas, mais amplo, que permite abordar todos os outros temas que não estão agrupados. Aqui já temos "Os cães no lixo" e a "requalificação da marginal de Santa Luzia". Trata-se de trabalhos que gostei de fazer, que achei importante fazer e que tem graça mostrar, ou então, assuntos que me parece poder ajudar a fazer pensar.
4 -
Uma espécie de tema mais livre, mais ao correr do momento, do instante, uma espécie de diário, algo mais íntimo onde, para além de textos com relatos de factos do dia a dia e de pensamentos sobre diversos temas que me cheguem à mente, pode ter fotos, pode ter... o que me chegar, e que será impressões e conterá dentro dele um sub-tema que é impressões do dia.
Talvez com o tempo me discipline ao ponto de conseguir colocar todos os dias uma impressão mas de momento, as impressões do dia podem ser fotos tiradas no dia anterior ou dois dias antes, mais de momentos próximos do que do dia no entanto, chamo-lhe do dia para me encaminhar, a mim própria, no sentido de colocar aqui impressões sempre muito fresquinhas.
Poderão existir alterações na organização do blog conforme me for deparando com o desenrolar dos acontecimentos mas estruturalmente é isto que estou a fazer agora.
Poderão aparecer novos temas...
"O futuro a Deus pertence"...

jornalismo - entrevista/reportagem com Pedro Ramos

in Postal do Algarve - Junho de 2007


“O instrumento do actor é o seu corpo”

“Somos todos naturalmente maus e bons”

“Espectáculos com os diferentes graus de leitura para chegarmos ao maior numero de público possível”

Pedro Ramos em pequeno não conseguia definir-se por uma só profissão. Quando lhe perguntavam “O que é que queres ser quando fores grande?” Ele não sabia porque se sentia atraído por todas e por nenhuma em especial, então descobriu que se fosse actor, podia ser de todas as profissões. “Inicialmente foi isso, depois eu sempre fui um bocado ‘teatreiro’, gostava do facto de poder ser outra pessoa ou de “ter, conhecer e compreender outras personalidades e comportamentos que não apenas os meus”. Afirma Pedro. Essas personalidades que se representam em cena já existem de algum modo em nós. “Somos todos naturalmente maus e bons, temos todas as características. Consoante o nosso papel social assim nos controlamos e dominamos certas partes. Um actor tem que se conhecer bem a fundo, saber quais são as suas qualidades e os seus defeitos e saber usar essas coisas que podem ser más para uma coisa útil que é a representação, o teatro.” O actor tem de se trabalhar muito a si próprio. O seu corpo é o seu principal instrumento. “Quando digo corpo é esse conjunto todo, o corpo e a mente, toda a minha história, todo o meu passado, tudo aquilo que eu sou, todos os conhecimentos que tenho sobre o que quer que seja e depois saber seleccionar todas essas informações que tenho em mim, para construir cada personagem que represento”. O actor tem de estar muito atento a tudo o que se passa em seu redor, a todos os níveis. Desde as expressões dos transeuntes, onde vai buscar muito material para a representação, fora de si próprio. “Muitas vezes criamos as personagens a partir da observação que fazemos das pessoas. Estamos sentados no café e olhamos. Conseguimos ler determinadas posturas físicas, sabemos que uma pessoa que está curvada e encolhida dificilmente será uma pessoa muito feliz, extrovertida… há pessoas que são muito abertas e muito espampanantes mas se calhar aquilo também esconde qualquer coisa ali por trás e serve de defesa. Na minha opinião a psicologia e o teatro têm muitos pontos em comum. Os actores têm obrigação de ter um pouco essa capacidade de psicólogo, de observar, de perceber como é que aquelas pessoas funcionam, através das suas linguagens corporal, oral, sensorial, etc. O instrumento do actor é o seu corpo. Ao representarmos personagens, se queremos passar uma personalidade que não é a nossa, temos que saber jogar com o nosso corpo física e psiquicamente, de forma a ajudar, a complementar aquilo que queremos mostrar às pessoas”.

“Temos que nos manter o mais informados possível”


Actor e personagem não se confundem, apenas se misturam de uma forma consciente e controlada “seria um grande problema para um actor identificar-se com as personagens e confundir a sua personalidade com a personalidade da personagem. Duvido que aconteça e se acontece é patológico, é doentio. Não tem nada a ver com a arte de representar fazer uma coisa dessas, essa confusão!”
O actor tem de se manter informado sobre aquilo que o rodeia, sobre o que acontece na sociedade e no mundo, “até de toda a história que temos por detrás. Uma das coisas que nos ensinaram na escola é que temos que nos manter o mais informados possível sobre o que nos rodeia, sobre o que acontece. Temos que ter conhecimentos de antropologia, de sociologia, de psicologia, talvez até mais do que saber especificamente como cozer o sapato para representar o sapateiro. É mais importante lidar com as emoções e saber expô-las do que condicioná-las”.

“É bom quando as pessoas dizem ‘ai que fácil, eu também sou capaz de fazer’”

Pedro Ramos
estudou teatro “na Escola de Formação Teatral do Centro Cultural de Évora / Cendrev”.
Numa escola de teatro “Aprendem-se métodos de representação. Existem vários métodos e formas para representar, o trabalho de actor é um trabalho que tem evoluído muito e está em constante evolução. Tem-se aulas técnicas (corpo, voz) aulas práticas de interpretação, aprendem-se teorias sobre o teatro e a sua história, o que é o teatro, para que serve. Uma das coisas que se deve aprender numa escola é a razão política, social de se fazer teatro, qual é o objectivo de existir teatro”.
Pedro é perfeccionista e nunca fica totalmente satisfeito com o que faz. Quer sempre mais de si próprio “é bom quando as pessoas dizem ‘ai que fácil, eu também sou capaz de fazer’, dá trabalho passar essa impressão de tão simples e leve e fácil. Que não é! Mas se conseguirmos passar essa imagem temos o nosso trabalho de alguma forma conseguido”.
O teatro é uma grande constante na sua vida. “Comecei na escola primária naquelas festinhas de fim de período. Com quinze anos comecei a fazer teatro amador na minha terra, em S. Bartolomeu de Messines. Desde que fui para o grupo de teatro amador nunca mais deixei de fazer teatro. Depois estive na universidade, continuei a fazer teatro amador. Fui para a escola de teatro, estive lá três anos. A seguir trabalhei na ACTA em Faro, no Baal 17, em Serpa e depois criamos o AL-MaSRAH em Tavira.”

“Se não for educador, se não for pedagógico, é inútil fazer teatro!”


O teatro tem um lugar no mundo sem sombra de dúvida. “Podíamos pensar que é uma coisa inútil porque há a televisão e o cinema, temos outras formas de entretenimento, mas o teatro pode ser muito mais do que isso. Obriga as pessoas a irem a um sítio em que se encontram, no local onde acontece uma representação com pessoas iguais a elas, que estão ali à frente delas. A grande diferença em relação ao cinema. As pessoas sentem as respirações e tudo o mais.” O modo de exprimir verdades também é diferente. “Devido aos condicionalismos que existem num espaço fechado, todo o cenário, tudo, todo o espectáculo será muito mais simbólico, muito menos realista do que no cinema por exemplo”. Não gosta do teatro só para alguns, quer chegar a todos. “Preferencialmente fazer espectáculos com os diferentes graus de leitura para chegarmos ao maior numero de público possível”, e sempre tentando deixar a semente da abordagem crítica e por isso mais consciente da vida, “levantando determinadas questões, fazendo pensar através, também, da identificação ou repulsa, emocional ou racional, pelas personagens.”
Concorda com a existência de oficinas de teatro, não apenas para quem quer ser actor e sim para todas as pessoas, de todas as idades porque se percebermos o que está por detrás de uma representação, tornamo-nos mais críticos relativamente àquilo que estamos a ver e “é importante que as pessoas se descontraiam, que percam aquelas barreiras sociais que todos nós temos no nosso dia a dia e que consigam soltar-se. Os exercícios relacionados com o teatro obrigam a que as pessoas se libertem de muita coisa”.
O teatro é dinâmico e transformador, “se não for político, político no sentido social, não político no sentido partidário. Se não for educador, se não for pedagógico, motivo de discussão, de reflexão… é inútil fazer teatro!”


Texto e fotos de Paula Ferro


jornalismo - entrevista/reportagem com Diogo Guerra Pinto

in Postal do Algarve - Abril de 2007

Esta exposição esteve patente ao público na Artadentro em Faro.


A arte é a ideia da obra, a ideia que existe sem matéria
Aristóteles


Quando pinto realizo-me completamente.


A natureza ajuda a centrar-nos na essência

A cor dá o toque final, o ambiente, é tudo o que está

Começou por se sentir atraído pelo desenho. Fazia desenhos sozinho. Gostava. Tem um tio pintor. Ainda adolescente foi passar uma temporada com ele, para pintar. Essa experiência rendeu-lhe mais algum tempo a trabalhar a solo mas a coisa tornava-se cada vez mais séria. Pintar exigia mais e mais de si. Entrou para o Ar - Co “para trabalhar mais a sério, canalizar mais o trabalho”. Frequentou esta escola durante cerca de sete anos em várias áreas incluindo desenho e pintura. “Gostei bastante. Tinha excelentes professores. São os professores que puxam por nós, entusiasmam, estimulam e ensinam a encurtar caminho. Chamam-nos a atenção para pormenores. Ajudam-nos a ter uma distância em relação ao trabalho, imparcialidade. Isso é importante para percebermos o que é que estamos a fazer. Há dois momentos: o de fazer e o de olhar para o trabalho que se fez, para ver o que estivemos a fazer. O próprio trabalho fala de si próprio e é preciso compreendê-lo”.
Pintar é sempre um momento único. “Quando pinto é um momento muito especial. Sinto-me realmente bem como homem”, enche o rosto com um meio riso meio sorriso, como quem fala de algo muito especial e íntimo, “realizo-me completamente. Aquele momento é um momento em que estou consciente mas é único. O momento em que estou em contacto com outro lado do homem que sou e, onde encontro…” pausa curta para encontrar a palavra certa “…uma força”.


O pintor e o homem… se calhar não os consigo separar

O pintor e o homem são uma e a mesma pessoa. “Quando evoluo como pintor também evoluo como homem. É uma questão de estratégia, de disciplina, consciência de mim, do outro, do mundo que está à volta, em todos os sentidos…” Uma pequena pausa para pensar. “O pintor e o homem… se calhar não os consigo separar”.
Aborda temas como a Natureza e o Homem. “São temas de que gosto, sou sensível a isso, desde sempre acho que são belos”.
Passeávamos pela galeria e Diogo ia falando dos seus quadros, um por um. “Esta carne”, aponta para um quadro onde pintou um bocado de carne pendurada num talho, “tem a ver com a morte e a vida, com esse ciclo, a morte que mantém vivo ” Viramo-nos para outra direcção. “Este urso aqui”, aponta, “‘o urso empalhado’. Está num pedestal, pretendi criar uma certa artificialidade. O fundo foi a partir de pormenores da natureza, de floresta e depois, o urso empalhado que tem a ver com aquilo mas não tem a ver”. Passamos a outro quadro “O índio surgiu, foi surgindo. Gostei da imagem. Costumo trabalhar a partir de coisas que tiro, de fotografias, imagens de revistas, de jornais… Inspiro-me e depois recrio. Foi de um jornal, o índio tem esse lado heróico, épico, e a maneira como na fotografia estava representado: uma coisa que está extinta mas ainda existe, resquícios do passado. Tem um bocado a ver com a relação da natureza”.

Pintar é um acto de fé, um acto de vida
Enquanto me falava dos quadros ia-me confidenciando sobre os seus hábitos de trabalho. Diogo trabalha quotidianamente, tem um horário como qualquer trabalhador de empresa mas nem todo o trabalho do artista se resume ao pintar, é muito mais vasto do que isso. "Às vezes percebo que é fundamental dar voltas e sair. Costumo trabalhar a partir de imagens impressas mas o contacto com as coisas é fundamental. Desenho bastante. É aí que surge a ideia”. O princípio de tudo é o desenho com lápis em papel mas “não desenho com o lápis sobre a tela. Na tela acabo por desenhar, com o pincel, mas não com o lápis. […] A reflexão acontece, a princípio, a nível do desenho. Segue o desenho, as ideias que tiro quando olho para uma figura, uma imagem. Aí surge a pintura”. Pintar altera o seu modo de olhar o mundo. Conforme vai encontrando novas impressões, vai descobrindo novas maneiras de exprimir as ideias que tinha inicialmente e essas também se alteram conforme as decisões que vai tomando, com a maneira de pintar, com o que acontece. “Uma coisa puxa a outra e a outra puxa a outra”. O acto de reflectir e o de pintar têm características diferentes. O gesto transformado em acto que pinta, é algo mais intuitivo e impulsivo, “já não tem a ver com aquela reflexão, aquilo que me levou a pensar o quadro, aquilo que aquela imagem me levou a pensar e por isso a fazer. Já é outra coisa porque quando se está a pintar já é um acto de fé, é um acto de vida”. As coisas adquirem outra dimensão, passam a ser pensadas, sentidas, como que vividas porque existe o contacto e transformam-se em algo mais familiar e compreensível. “É como a morte, quando se está a pintar sobre ela já é outra coisa. Coisas que me fazem espécie, temas como a vida e a morte fazem-me uma certa impressão e quando trabalho neles já é outra coisa. Trabalho a cor, a tinta, já é um aspecto completamente diferente e depois a imagem final é quase inconsciente, não se pensa muito, pensa-se com o pincel”.

A natureza tem algo a ensinar-nos

A cor é muito importante. Tal como o desenho é o embrião, “a cor dá o toque final, o ambiente, a cor é tudo o que está. Quando estou contente com a cor é quando o quadro está acabado, quando consegui o efeito tonal que queria, seja pelo contraste, pelo tom, luz ou sombra que quero”.
Continuámos o nosso passeio pelos quadros. Parámos diante de uma tela com cães que parecem lobos. Um ar ameaçador num ambiente nocturno mas cheio de luz amarela e intensa. “São cães a atacarem ou a defenderem-se de alguma coisa que está por trás. Isto tem a ver com medo”. E teorizamos sobre os sentimentos ou sensações. “O medo tem a ver com a confrontação. Tem a ver com isso. E em contacto com a natureza, através de imagens, das sensações que nos desperta, dá-nos paz”, como que afugenta e ajuda a resolver os medos.
Subimos as escadas e o primeiro quadro com que me deparei é uma caveira. Cheia de movimento, de vida. “Foi quando trabalhei durante mais tempo caveiras. Continuo a fazer, é um tema recorrente. Agora, não tem que ser. Esta é a mais recente”. Na parede em frente uma enorme tela em tons mais avermelhados, escuros, com uma rapariga agarrada a um enorme cão, "‘A Bela e o Monstro’. É a ideia de que parti, de bela como beleza de fragilidade, e o cão de luta, a força e o dominar a fera também”. Outro quadro, "O Retiro’"“Retirar-se para um ambiente natural e estar ali, consigo próprio, a natureza e o homem A forma como o homem se descobre. O homem não existe sem natureza. Sinto que ela tem algo a ensinar-nos. Olhá-la contemplando. Quando contemplamos a natureza distanciamo-nos do nosso dia a dia e isso ajuda-nos a centrar-nos. A centrar-nos na essência”.


Texto e fotos de Paula Ferro








jornalismo - momentos marcantes - Marenostrum nos Artistas em Faro

in Postal do Algarve - Abril de 2007
Marenostrum encheram os Artistas de ritmo e alegria.
Zé Francisco Vieira

Sons Árabes e Algarvios marcados por ritmos célticos.

Os Marenostrum encheram de ritmo e alegria a sala de espectáculos dos Artistas (Sociedade Recreativa Artística Farense) no passado sábado. As misturas de sons Árabes e Algarvios fortemente marcados por ritmos célticos, todos interpenetrados de modo original e melódico, contagiaram o público que de rostos acesos de sorrisos tinha dificuldade em manter-se sentado. As melodias mais brandas, de sabor africano, atenuavam o frenesim, mantendo-nos embalados e presos ao fluir dos instrumentos e da voz do vocalista. Este, contava histórias simples e engraçadas, cheias das palavras típicas daqueles que por aqui sempre viveram amando o mar. No fim foi mais uma e mais uma e mais uma… música, até que já não se podia fazer “barulho” e os Marenostrum, com muita pena nossa, foram obrigados a parar.
No sábado assistimos ao “ primeiro de muitos concertos que vamos dar agora.” anunciou Zé Francisco ao POSTAL DO ALGARVE.
Esta banda acontece, como Marenostrum, em 1994, ainda com o Sérgio Mestre. “Uma das pessoas que contribuiu bastante na primeira parte do projecto” afirma Zé Francisco, o vocalista que toca também viola, guitarra e bandolim, “não sendo ele o autor das músicas, ajudava-nos sempre a cozinhar a coisa. Ele estava sempre por perto e participou no nosso segundo CD.” Continuou.
Oriundos do sotavento Algarvio, arredores de Tavira, têm como base para a composição dos seus temas, a música popular da nossa zona (o corridinho e o baile mandado) mas depois soltam-se atrás do vento e o resultado tem sabor a diversas paragens. A composição da música é sobretudo de Paulo Machado (baixo e acordeão) mas depois todos ajudam “ao cozinhado”. O mesmo se passa com os textos, normalmente da autoria do Zé Francisco. Estes falam-nos das vivências do dia a dia de quem vive o mar, de quem o ama e gosta de o contemplar. Fazem um trabalho verdadeiramente de equipa onde as coisas têm que se conjugar e adaptar ao sentir de todos. O núcleo do projecto desta banda é constituído pelo José Francisco Vieira, Paulo Machado e Janáca (João Francisco Vieira) - bateria e percussão. Neste momento a banda conta também com Emanuel Marçal no acordeão e Lino Vidal nos saxofones.
Já deram a conhecer o seu trabalho um pouco por todo o país podendo destacar-se as actuações no I Concurso de Música Folk “Arribas Folk” de Sendim em Miranda do Douro do qual foram vencedores (2003), o IV Festival Intercéltico de Sendim (2004) e o Festival de Loulé (2006) onde partilharam o palco com a Orquestre National des Barbes. Também já foram ouvidos em vários pontos do mundo: Festival de Jazz de Linchopin na Suécia, na Índia, e um pouco por toda a Espanha. Venceram o VI concurso de Música Folk Cuatro de los Vales em Navelgas nas Astúrias em 2005. Almadrava, o seu segundo CD, foi eleito pela revista Folk Roots (Inglaterra) para a sua play list da edição de Março de 2006. Aguarda-se o lançamento de novo álbum para Setembro do corrente ano.


Texto e foto de Paula Ferro

sábado, 30 de agosto de 2008

jornalismo - entrevista com Lis Petersen

Lis Petersen é membro do grupo A Ponte.

in Postal do Algarve - Janeiro de 2007

Para Lis Petersen, a Arte não se define em duas palavras.

É a força e a beleza que se encontra ao longo da História de Arte.



Lis Petersen é natural de Oslo na Noruega. É licenciada em Belas Artes (Bergen). Desde 1986 que participa em exposições individuais e colectivas em Portugal e noutros países europeus. Há vinte anos que vive e trabalha em Tavira. Faz parte do Cavalo Verde, um grupo de artistas de várias nacionalidades que habitam nos arredores de Tavira e tem uma exposição permanente no Restaurante Aquasul em Tavira de terça a sábado das 19 às 24 horas. Para mais informações sobre a pintora consultar http://www.lispetersen.com/ . Pode ser contactada no seu atelier na Rua Almirante Cândido dos Reis, nº 31 em Tavira

POSTAL DO ALGARVE – Quando descobriu que tinha tendência para as artes?
LIS PETERSEN -
Sempre gostei muito de pintar e de desenhar, desde criança. Na minha família sempre tivemos muitos quadros em casa. O meu pai gostava muito de pintura também pintava, não era profissional, pintava nos tempos livre. Ele tinha muitos livros de arte e eu passava horas e horas a olhar para as imagens desses livros. Quando eu tinha os meus doze, treze anos, gostava muito de ir ao Museu de Edvard Munch. Não era longe da minha casa e eu ia lá com frequência e passava lá muitas horas. E no museu existem desenhos, estudos, quadros enormes e isso marcou-me muito. Era fã de Munch.

Estudou Belas Artes.
Sim, mas antes já estudava arte. Na Noruega faz-se um curso de preparação para as artes. Queria trabalhar com fibras, acrílicos e têxteis então fiz um curso de costura e depois fiz um outro curso, num internato que foi uma imensa abertura para mim, tinha eu 17 ou 18 anos. Estive lá um ano. Naquela escola há salas para tudo. Sala de escultura, de teares, de cerâmica, de gravura… e os alunos têm chaves das salas, podem utilizá-las sempre que queiram e o tempo que necessitarem. Esta escola é numa ilha, a natureza é muito forte, com mar. Eu sou de Oslo, nunca tinha vivido assim no meio de uma natureza tão forte e isso inspirou-me bastante.
Depois da estadia nesta escola é que entrei em Belas Artes em Bergen.

Quando é que começou a expor?
Mais ou menos com 20 anos, estava já em Belas Artes. Belas Artes. A escola tem contactos com galerias e museus. Eu comecei por tentar participar nestas exposições digamos que institucionais e estabelecidas. Para participarmos temos que concorrer com profissionais. Existem mesmo concursos, com júris para podermos expor nestas galerias e nestes eventos. Na Noruega temos uma organização para artistas muito forte e muito bem organizado. São dadas muitas bolsas aos artistas e então estes tipos de exposições dão pontos, uma espécie de nota aos artistas. Se tivermos entrado para as Belas Artes temos uma classificação, se participamos neste tipo de exposições temos outra classificação. Por exemplo, se temos uma encomenda para um edifício do Estado temos outra classificação. Algumas galerias têm um tipo de júri, outras já têm outro tipo de avaliação para seleccionar os artistas.

Começou a expor pintura ou escultura?
Comecei por expor esculturas em betão misturado com fibras. Estava muito interessada nas texturas e nos contrastes. Por exemplo aquele tecido muito fininho com que se fazem os véus das noivas e os saiotes das dançarinas de ballet com muitas cores fortes. Tule. É muito feminino. Eu usava este tipo de tecido misturado com betão. Nessa altura expressava-me muito com este tipo de contrastes.

Como foi evoluindo em termos de materiais?
Inicialmente, em Belas Artes aprendi muitas técnicas diferentes: Pintura, desenho… Para já, para entrarmos em Belas Artes é necessário estar lá 10 dias a trabalhar na escola. Trabalhar fazer diversos exercícios em várias áreas, na pintura, na escultura, etc. Também temos que mostrar trabalhos feitos anteriormente e estamos sujeitos a uma entrevista e depois o júri é que escolhe quem vai entrar. Eu tive sorte porque entrei logo na primeira vez que tentei, fiquei muito feliz, muito contente. No primeiro ano todos os alunos estão juntos. Queiram eles seguir mais pintura ou escultura ou outro caminho, não interessa, estão todos juntos. No primeiro ano é pintura e muito desenho, anatomia, desenhar nu, e História de Arte. No segundo ano escolhemos para onde queremos ir. No segundo ano fui para a sala das fibras mas também fui para a de Pintura. Quando terminei Belas Artes voltei para Oslo. Aí juntámo-nos dez pessoas vindos das várias escolas de Belas Artes e alugámos um edifício que tinha sido um local de culto, uma espécie de igreja de uma religião qualquer. Era um espaço enorme, com rés-do-chão, primeiro e segundo andar. Tinha um jardim no centro, tectos altos, muitas salas grandes, era fácil para entrarmos com carrinhas e trazermos material, enfim, era mesmo o que nós precisávamos. A renda era barata e alugámos este espaço. Aí organizámos muitas exposições, concertos, teatro, espectáculos variados. Aqui comecei a pintar mais. Inicialmente era uma mistura. Pintura com relevos. Pinturas com textura. Mas foi aí que eu comecei mais a trabalhar peças para pôr na parede. Antes fazia mais peças para pôr no chão.

Que materiais utilizava?
Nessa altura ainda estava muito longe da têmpera que uso hoje. Pintava muito sobre plástico, PVC e tinha que usar outro tipo de tinta para pegar no plástico.

Hoje que materiais utiliza?
Tempera é feita com ovo e pigmentos e linhaça. Eu vou mostrar. Faço uma base e quando acabo de trabalhar ponho no frigorífico para não se estragar. Aqui, esta é a base.
(mostrando os materiais e como se juntam) O ovo, a linhaça e aqui estão os pigmentos. Temos aqui vários tipos de pigmentos. Esta era a técnica utilizada nos frescos, nas primeiras pinturas que se faziam. É uma das técnicas a óleo mais antigas. É uma técnica a óleo porque a linhaça é óleo. E os pigmentos eram tirados da natureza, dos minerais e das plantas.
Como chegou a este tipo de tinta?
Experimentando. Eu gosto muito de experimentar. Procuro sempre novas técnicas.

O que é para si a arte?
(Olhou para mim surpreendida e riu) Arte… Ninguém tem a definição de arte.
Em Belas Artes a História de Arte foi muito importante para mim. O nosso professor de História de Arte que também era pintor e o director da escola pertencia a uma família de pintores conhecidos. Ele chama-se Morten Krog é filho de Per Krog e neto de Cristian Krog. Esse professor tinha uma colecção de slides de obras de arte que parece que é a melhor do Norte da Europa. Ele sabia imenso de História de Arte, sabia transmitir o que sabia e mostrava fotografias muito boas. Não havia aluno que quisesse perder uma aula dele ( sorrindo ). Quando acabei Belas Artes, fiz uma viagem à Europa, fui à Holanda, à Alemanha, Inglaterra, Espanha e França com o objectivo de ver museus. Quando encontrava ao vivo as obras que o meu professor me tinha mostrado em slides, era muito forte, muito forte mesmo! A primeira vez que estive no Museu do Prado em Madrid, foi quando a Guerenica chegou à Espanha. Foi uma sensação muito forte ver o Guerenica assim ao vivo e ver estudos de Picasso do dia a dia. Foi muito forte. O que é que é arte para mim? É esta força, esta beleza… não consigo definir arte assim em duas palavras.


Fiquei fascinada com Portugal. O olhar agarrava-se a tudo o que via


Porque veio para Portugal?
Na Noruega era preciso ter outro tipo de trabalho em simultâneo para poder pagar a renda, os materiais, para comer e tudo isso. O meu dia a dia era muito dividido entre o trabalho para ganhar dinheiro e o atelier. Então decidi encontrar um sítio onde ficasse dois ou três meses a trabalhar concentrada e depois voltava para a Noruega e trabalhava para ganhar dinheiro num outro período do ano. Mas eu fiquei muito apaixonada por Portugal, pelo ambiente, pelos sons, pelo cheiro, pela luz, por tudo… Andava nas ruas de Lisboa fascinada, com o olhar agarrado a tudo o que via. Depois vim logo para Tavira. Algumas pessoas disseram-me que Tavira era uma cidade muito bonita. Vim ver e gostei muito. Tive sorte, aluguei uma casa e comecei a pintar aqui.

Tem sobrevivido da pintura?
Sim mas é difícil. Bem, depende daquilo que se precisa. Eu não sou muito materialista, não preciso de muita coisa para funcionar, para viver
.
Tem uma exposição permanentemente do Restaurante Aquasul em Tavira.
Sim. Vou mudando os trabalhos mas tenho sempre quadros expostos lá.

Quantas horas costuma trabalhar por dia?
Depende. Normalmente venho para aqui de manhã, depois vou fazer o almoço dos meus filhos, volto para cá à tarde até à hora de tratar do jantar e quando tenho encomendas ou trabalhos em mente para fazer também venho para cá à noite.

Pode-se dizer que trabalha as suas oito horas por dia.
Sim, oito, nove e às vezes mais.


Pintei a menina de Velásquez almoçando com Picasso, conversando com Matisse…
O que gosta mais de pintar?
Quando eu vim para Tavira, comecei a pintar ornamentos de ferro, varandas, calçadas de Tavira. Fiz uma exposição na Noruega com todo esse material. Voltei para cá e tinha uma exposição individual marcada em Oslo. Nessa altura vivia no campo e comecei a pintar paisagens. Aqui a natureza é muito bonita, muito forte, a cor da terra, as alfarrobeiras velhas, as casas, a luz, o céu…e também fiz alguns quadros da cidade. Fiz essa exposição e depois tive que parar porque nasceram os meus filhos, gémeos. Durante dois anos tive que cuidar inteiramente deles. Quando recomecei a ter tempo estava desejosa de trabalhar, ansiosa por voltar a agarrar nos pincéis. Nessa altura comecei a pintar mais figuras, pessoas. A pintar os meus filhos, os brinquedos deles… Eles inspiram-me muito. Entretanto passamos um Inverno na Noruega. Alugámos uma casa perto da casa de Edvard Munch.


Edward Munch marcou-a muito.
Sim, ele marcou muitos pintores noruegueses. E nesse sítio também me sentia muito inspirada. Ruas com casas velhas de madeira, muito pitoresco. Há uma praia lá com pedras gigantes. Um quadro de Munch muito famoso que se chama Melancolie, é um homem a pensar na praia, naquela praia onde eu estava. Isso também me entusiasmava muito. Depois voltei para Portugal e pus-me a olhar para tudo, à procura de algo que me inspirasse verdadeiramente, e descobri! Os cães vadios. É muito especial daqui. Lá na Noruega não há, é tudo muito organizado e os cães têm sempre dono! Então eu diverti-me muito a pintar estes cães.
Depois de pintar os cães voltei-me um bocado para a História de Arte. Gosto muito de alguns pintores espanhóis. Por exemplo Picasso, Velásquez, Goya, Tapies… Então inspirei-me na menina Velásquez e comecei por fazer a minha versão dela. Mas ela também tem um cão lá ao lado no quadro original e comecei a brincar com ela, a usá-la como a personagem principal dos meus quadros. Ela a brincar com o cão, a sair do quadro…depois a menina de Velásquez foi almoçar com vários pintores, (e ia mostrando o seu port folio de trabalhos antigos) aqui está a almoçar com Basquiat, um outro pintor que me influenciou muito. Aqui a menina almoça com Picasso, aqui com Tapies , um outro pintor espanhol de quem gosto muito e aqui com Pollock. Aqui ela está com os touros de Picasso…Aqui já temos a menina a pôr a mesa, a fazer coisas do dia a dia.

Quanto tempo andou a pintar a menina de Velásquez?
Muito tempo. Depois eu procurava quadros na História de Arte de que gosto muito e inspirava-me. Aqui ela está a conversar com Matisse, com Manet… Outra coisa que eu faço muito são registos do meu quotidiano, do que fazem os meus filhos, do que me acontece… Com estes quadros (mostrava mais um port folio) fiz uma exposição individual na Galeria Espírito Santo em Loulé. Esta série é com os meus filhos, chama-se Gémeos. Aqui estão a dar cambalhotas na praia, a lutar, a brincarem um com o outro, a dormir, a andar de bicicleta…



Explora a cor?
Sim, a cor é muito importante para mim e exploro muito a cor mas é mais por períodos. Há períodos em que trabalho mais o vermelho, outros períodos exploro mais outras cores. Todo o trabalho é um processo. Por exemplo neste quadros da menina de Velásquez eu estava a trabalhar com tempera mas é uma tempera mais grossa, tem mais óleo, por exemplo aqui, (ia mostrando nos seus port fólios) quando mudei para este atelier comecei a pintar em papel e a tinta mais aguada, e aqui a tinta é misturada com areia. Houve uma altura em que eu tinha uma colecção imensa de areia. Areia de várias praias, com cores diferentes, umas mais finas, outras mais grossas…Toda a gente me trazia areia . Por exemplo neste trabalho tenho vários tipos de areia, areia da praia aqui e areia de Marrocos, escura. Primeiro pinto na tela, ponho areia e depois pinto em cima da areia. Neste momento estou mais interessada em pintar sobre papel com traço rápido, com mais acção, mais movimento. Depois escolho e colo na tela. Isto começou com exercícios que eu fazia de manhã aqui no atelier para soltar a mão e depois fui descobrindo que alguns dos exercícios não eram para jogar fora e sim um caminho a explorar. Hoje é uma forma pessoal de me exprimir. Descobri isto trabalhando. Isto é resultado de trabalho. Tal como já disse, a pintura requer talento mas sobretudo trabalho. 4 ou 5 por cento é inspiração mas todo o resto é trabalho, trabalho, trabalho…


Texto e fotos de Paula Ferro

O atelier de Lis Petersen:







































































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Se quiser c onsultar o site do grupo A Ponte, clique em:





A Ponte - montagem da exposição - As Artistas da Ponte - Mercado da Ribeira -

A inauguração da exposição colectiva "As Artistas da Ponte" aconteceu no dia 29 de Agosto pelas 20 horas e estará patente ao público até dia 21 de Setembro.


Durante a montagem da exposição:
Cada uma de nós decidiu sozinha aquilo que queria apresentar, mas a colocação das peças foi decidida em conjunto:
Isabel Macieira e Lis Petersen:



Rachel Ramirez, Isabel Macieira, Lis Petersen, Maria José Costa, Saroja e Linda Brubacher:




Depois das decisões, as execuções:



















Momentos:

Em baixo, Maria José Costa e Casey Clark:










Linda Brubacher, Deva e Saroja:



E dentro dos instantes, um momento em três tempos que traduz uma feminilidade que me fez sorrir por dentro.


Casey Clark (de branco, à direita, com a sua amiga, pianista alemã, a quem peço desculpa por não me recordar do seu nome):
























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jornalismo- momentos marcantes - JP Simões no CAPA

in Postal do Algarve - Abril de 2007


JP Simões aquece emoções



Voz lusa embalada por samba e bossa-nova

O CAPA (Centro de Artes Performativas do Algarve) ofertou-nos mais duas noites de espectáculo inesquecíveis na sexta-feira e sábado passados. JP Simões apresentou o seu álbum “1970” seguido de uma conversa informal no primeiro andar onde nos aguardava a exposição de trabalhos inéditos de Paulo Serra. A conversa informal foi todo o concerto onde JP Simões, excelente comunicador, numa forma espontânea e tranquila, com um incrível sentido de humor, nos mantinha agarrados e misturados com o fluir do espectáculo. Um Chico Buarque embebido de José Mário Branco, estranhamente familiar, de figura quase singela, assim, como que abandonado e entregue ao devir, o artista despia a alma no entre-desfolhar das canções e ia-nos dando a conhecer a sua personalidade marcante e única.
JP Simões nasceu em Coimbra em 1970. Com cinco anos emigrou para o Brasil. De volta a Portugal estudou Jornalismo, Direito da Comunicação, escrita de Argumento, Saxofone e Língua Árabe.
“Agora sou músico semi-profissional. Umas vezes tenho trabalho, outras não tenho.” Explica JP Simões ao POSTAL DO ALGARVE. “Tenho três ou quatro outros ofícios. Faço uma série de coisas, de improviso essencialmente. Música para filmes, argumentos… Agora estou a trabalhar na Rádio Europa em Lisboa. Sei lá, eu sou um trabalhador liberal que faz música. É só isso!” A sua música tem sabor a samba misturado com as realidades lusas. Fortemente marcado por Chico Buarque de Hollanda, refere personalidades como Tom Jobim, Charlie Parker, David Bowie, Tom Waits, Astor Piazzolla entre outros. A música, de uma maneira mais ou menos efectiva foi-o rondando ao longo da vida. Em criança teve aulas de guitarra. Em adolescente, em Coimbra, tinha uns amigos, “músicos de garagem” que o convidaram para cantar ou tocar guitarra numa banda que se chamava os “Proletários da Cidade” mas fazer “música propriamente dita, tocada para os outros, com agrupamentos e essas coisas todas, faço há quinze anos, para aí” sobretudo com os Pop dell’Arte, Belle Chase Hotel e Quinteto Tati.
Escreveu contos, letras de canções, argumentos para cinema e participou como músico e actor em filmes de Fernando Vendrell, Edgar Pêra e outros. Entretanto assinou algumas bandas sonoras para documentários e no teatro escreveu o libreto da “Ópera do Falhado”, partilhando a invenção musical com o compositor Sérgio Costa. Como jornalista foi colaborador da Capital, trabalhou em algumas revistas, escreveu para a Egoísta e para revistas de arquitectura. A formação de jornalista deu-lhe noções para perceber melhor a realidade informativa. Tenta ser claro e preciso naquilo que escreve mas acha que não escreve como um jornalista. Em 2006, preparou um espectáculo intitulado de "Canções do jovem cão" e anunciou o lançamento da sua carreira a solo, através de um disco em nome individual, com o título de "1970" e que foi editado no início de 2007. E… “Por favor não me falem do futuro, acabei de chegar!”
Paulo Serra artista essencialmente autodidacta que trabalha exaustivamente, bem conhecido da nossa praça e em muitos outros lugares, apresentou nesses dois dias os seus últimos trabalhos de desenho profundamente marcados pela força do vermelho com o título “O Maricas”. O artista afirma que “Os quadros são surdos-mudos. Quem está presente é a força e a energia.”
O CAPA não se fica por aqui, já nos promete novas emoções com as “Finka-Pé” um grupo de 20 mulheres Cabo-verdianas que misturam a música e a dança em gestos de improviso o que torna cada espectáculo num momento verdadeiramente único. Vai acontecer no dia 19 de Maio.

Texto e foto de Paula Ferro

jornalismo - entrevista/reportagem com Uberto Stabile

in Postal do Algarve - 14 de Junho de 2007


"O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da acção."
Simone de Beauvoir

“Quero que a poesia me inquiete, me crie intranquilidade!”



“A poesia é uma maneira de estar na vida.”


Uberto Stabile filho de italiano e espanhola, nasce em Valência em Julho de 1959. Licencia-se em História de Arte na Universidade de Valência onde cria a “União de Escritores do País Valenciano”, dirige o “Café-Livraria Cavallers de Neu”, e a “Editora Malvarosa”. “Estive também em Roma e Bolonha estudando e trabalhando. Fui aluno do Umberto Eco na DAMS (Direcção de Arte, Música e Espectáculos). Nessa altura ele ainda não era romancista. Depois escreveu ‘O Nome da Rosa’ e acabou-se o Umberto Eco professor.” Riu com jovialidade.
Uberto cresceu com a actividade poética misturada com os gestos quotidianos. “A poesia é um exercício de higiene mental” e o sorriso invadiu-lhe o rosto de uma certa traquinice, “é uma forma de estar na vida, de a entender e de a explicar, um modo de nos reafirmarmos perante o mundo e a realidade. Uma forma de compreender e interiorizar a realidade, um modo de a habitar. Uma maneira de estar na vida.”

Aos dezoito anos publicou o seu primeiro livro. Representou a Espanha na II Bienal de Jovens Artistas do Mediterrâneo em Bolonha (Itália) em 1987. Obteve vários prémios: Prémio de Poesia Villa de Allaquas em 1984, Prémio Valência de Literatura em 1987 e Prémio Internacional de Poesia Surcos em 1997. No final dos anos 90 funda a “Associação Andaluza de Gestores Culturais”.
Hoje, tem cerca de doze livros de poesia publicados. Existem obras suas traduzidas e editadas em Itália, Bulgária, França e Portugal. “Procuro a poesia que me inquiete, que me crie intranquilidade, não a que me deixe indiferente ou que possa ser aflorada de uma forma puramente intelectual. Quero que a poesia me transmita desejos, sobretudo emoções.”

“A poesia é uma relação com o exterior”

Embora há alguns anos esteja afastado do acto criativo devido a outras actividades que se prendem sempre com a cultura, Uberto Stabile continua a praticá-la “no sentido intelectual da palavra porque estamos vivendo sempre e onde há vida há poesia”. Ela abunda na sua maneira de ser, na sua forma de se relacionar com o mundo e com os outros “é uma forma de olhar, de sentir, é uma relação com o exterior”, e é também a estrutura, o suporte, que lhe permite sonhar e voar, sustentar as suas ânsias de liberdade e, mesmo quando o mundo o espera descabido de cor por ausência de poesia, “Sem poesia tudo é cinzento”, é ainda nela que Uberto encontra a esperança e a força para continuar a lutar pelos seus ideais e objectivos.
Foram sendo publicadas antologias do autor. Este ano surgiram três: “Cem dias de Maio” no México, “Maldita seja a Poesia” em Saragoça e “Só mais uma vez” em Portugal.
Para Uberto Stabile poesia e arte viajam juntas mas não são a mesma coisa, “digamos que a arte é mais convencional, mostra o estabelecido pelos seres humanos, é algo que vai variando segundo a época, em função de critérios estéticos que vão marcando as pautas do gosto. A poesia relaciono-a mais com a beleza do que com o gosto e isso escapa ao homem, é um sentimento… é do homem, mas não é artificial. Não é algo estabelecido, é algo sensorial, emotivo, está dentro de nós e está mais perto das emoções do que das ideias.” Faz uma pequena pausa. “O mundo da poesia é quase invisível.” Muda de posição na cadeira. “E não se recebe só do verso. O poema é o veículo mais oficial, é o aspecto mais convencional da poesia mas não é o único. Hoje em dia há muito mais linguagens visuais, há a poesia visual…a poesia está também no teatro, na fotografia, no cinema, está na rua, na natureza… muito mais do que antes. Os poemas são uma forma de tentar traduzir de alguma maneira essa poesia que é inata e está em todas as coisas.”
O autor não se limita a escrever poesia, escreve ensaio. Uma das compilações de textos de ensaio é “Entre Lamparinas e Barricadas” (entre 1994 e 2004).
Porque é activo sem ser nervoso, é-lhe difícil estar parado. Colaborou em: “Diário de Valência”, “Diário Levante”, “Diário Huelva Informação” e na Imprensa especializada, com “Ajoblanco”, “Cartelera Túria”, “Valência Semanal”, La Luna de Madrid” ou “Europa Viva”.
É também autor de um “Guia de Recursos Literários da Província de Huelva” e do “Dicionário Literário de Huelva”.


“sou político e escrevo”

Para Stabile a poesia não está distante do mundo, pelo contrário, o mundo, o todo do que nos rodeia, está impregnado de poesia, por isso esta também existe no mundo social, aquele mundo que o ser humano habita até por definição. A poesia não está fora do acto, da inter-acção com o social, do “interventivo”. “Não estou ligado a nenhum partido mas não sou um ser apolítico, sou político e escrevo. Através das minhas formas, intervenho. E tento chegar à sociedade em que vivo com discursos que são a minha maneira de entender a realidade, criticando nalguns momentos e noutros tentando explicar o que vejo.” A poesia é também uma forma de intervir, de participar e de se ser em todos os campos, por isso exprime também o que sentimos perante o próximo, o que queremos do mundo que habitamos, o que nos desagrada naquilo que aqueles que partilham o mundo connosco fazem do mundo que nos é comum. “Alguns críticos integram-me no que se chama a corrente da poesia da consciência porque fala das pessoas, da sociedade, da guerra, da discriminação racial, da discriminação e violência dos géneros, da imigração, dos problemas que afectam a sociedade de hoje e sobre os quais temos que tomar uma posição”.
Em 1991 vai viver para Huelva e funda a “Associação Cultural 1900”. “Vim trabalhar na Casa Museu Juan Ramón Jiménez. Fui director da Feira do Livro de Huelva durante dois anos e finalmente director da área da cultura da Câmara de Punta Umbria”.
Em 1994 começa a editar a revista de poesia “Aullido” que introduz em Espanha textos de outros países Ibero-Americanos e cria e organiza os “Encontros Internacionais de Editores Independentes”.
Pensa sempre em escrever romance mas é uma promessa continuamente adiada por falta de tempo. “O acto narrativo permite-nos distanciarmo-nos do texto, podemos criar personagens, podemos sair, colocar na boca de outros ou simular narradores. A poesia é mais aberta, mais pessoal, vê-se mais quem nós somos. Na narrativa podem-se usar muitos filtros, muitas personagens, caracterizações e o psicológico tem um papel muito importante. Na poesia somos mais nós, mostramo-nos mais, é mais directa, mais emotiva e portanto mais pessoal.”


Intercambio cultural com cidades portuguesas

Quando chegou ao sul de Espanha, Uberto Stabile preferiu dirigir-se no sentido de Portugal, país cuja cultura há muito o “encanta”, a vincular-se a uma metrópole como Sevilha. “Antes de trabalhar em Punta Umbria já tinha estabelecido laços com Portugal através da Associação Almargem”, quando conheceu José Bívar e José Machado Vaz, “organizámos concertos, exposições e recitais, tanto em Faro como em Huelva. Reporto-me para 1994. Publicámos o livro de poesia de Fernando Esteves Pinto ‘Siete Planos Coreográficos’, fizemos uma exposição de escultura de Adão Contreiras e várias exposições de pintura de diversos artistas. Trouxemos a Huelva o grupo ‘Ecos de Coimbra’ e outros de música experimental de Lisboa, assim como fizemos recitais de poesia de José Vaz Machado e Fernando Esteves Pinto entre outros e quando eu já trabalhava na Câmara, criámos programas estáveis interculturais: ‘Cantos do Sul’, festival de música popular com Loulé. Com Loulé temos um intercâmbio há muitos anos com música, eles vêm todos os verões ao festival de bandas de música e vem sempre a orquestra filarmónica Amigos de Minerva de Loulé tocar a Punta Úmbria. Esta cidade está irmanada com a nossa e temos tido sempre a presença de bandas de música de jazz no nosso festival que vêm através do festival de jazz de Loulé. Tínhamos um festival que queremos recuperar. Chama-se ‘Cantos do Sul’. É de música folclórica e popular, popular tanto portuguesa como espanhola. Por último temos uma série de pequenas actuações de literatura, de exposições… Houve um momento de quebra mas estamos a recuperar todas as actividades”.
Com o Sulscrito está a desenrolar-se a “ ‘Palavra Ibérica’ que é uma colecção, temos também o prémio de poesia e o Encontro de escritores, com o mesmo nome, ‘Palavra Ibérica’, em colaboração com o “Sulscrito” e a Câmara de Vila Real de Sto António.”
“O Sulscrito – Círculo Literário do Algarve”, foi fundado por Fernando Esteves Pinto, Luís Ene, João Bentes e Pedro Afonso e é gerado a partir de um convite de Uberto Stabile para organizar uma antologia de poesia portuguesa em edição bilingue a publicar em Espanha. O projecto concretiza-se. Em Março de 2006, publica-se a antologia bilingue de poetas portugueses “Poema Poema”. Foram feitas apresentações em Loulé, Vila Real de Sto. António, Faro, Huelva e Porto. Ainda em Março se realiza o “1º encontro “Palabra/Palavra Ibérica” de autores hispano-lusos em Punta Úmbria. Autores portugueses convidados pelo “Sulscrito”: Rui Costa, Joaquim Paulo Nogueira, Fernando Dinis, Sara Monteiro, Fernando Cabrita e José Carlos Barros. Espanhóis estiveram presentes, entre outros, os escritores: Manuel Moya, Francis Vaz, Rafael Delgado, Maria Gómez, Josefa Virella, Inmaculada Luna, António Orihuela e José Luís Piquero. Paralelamente ao encontro foi inaugurada a exposição de fotografia “Mirada Ibérica” de Margarida Delgado e Ángeles Santotomás. Uma réplica desse encontro acontece em Abril, no Centro Cultural António Aleixo em Vila Real Sto. António. Sai ainda em Março de 2006 o primeiro volume da colecção “Palavra Ibérica” publicado em Espanha em edição bilingue com tradução de Uberto Stabile, “Muchas Veces Me Sucede Olvidar Quien Soy” de Luís Ene. Em Março de 2007 é publicado “Las Moradas inutiles”, também editado em Espanha, de José Carlos Barros, com tradução do poeta espanhol Manuel Moya e em Maio de 2007,“Só mais uma vez” de Uberto Stabile, traduzido por Rui Costa, editado em Portugal pela Livrododia Editores, parceira editorial na colecção “Palavra Ibérica” que é coordenada por Fernando Esteves Pinto.

“A cultura não deve pertencer só a certas elites”

Em 1994 foi criado o Prémio Nacional de escultura em Punta Úmbria. A partir de 2000 passou a ser “o ‘Prémio Ibérico de Escultura – Cidade de Punta Úmbria’. Está aberto a escultores tanto de Espanha como de Portugal, é Ibérico. Nestes últimos seis anos, dois dos primeiros prémios foram para portugueses e um segundo prémio também. Foram atribuídos a Ricardo Franco, Maria Leal da Costa e Paulo Perre. Abriu um sorriso. “Creio que este é o município de Espanha que mais actividades mantém com Portugal”. Sorriu de novo com um ar despreocupado e contente. “Houve um ano em que agrupámos todas as actividades que esta Câmara mantém com Portugal num só programa, era intitulado ‘Aulas de Cultura Portuguesa’”.
Mas os projectos de Stabile com portugueses não páram. “ Já criámos também a rede de cidades culturais da Feira das Culturas de Serpa.”
Punta Úmbria foi recentemente irmanada com Tavira e Stabile já deu passos no sentido de serem feitos projectos com a Câmara Municipal de Tavira. Acaba de chegar de Serpa e já está com um pé em Loulé num encontro literário entre a Casa da Cultura de Loulé e Punta Úmbria, “‘Palavras ao Sul’ é um evento que vai acontecer pela primeira vez e marca um reencontro de actividades. Está muito próximo, é dia 15 e 16 de Junho.”
Mas Stabile é determinado, organizado e não se contenta. Acredita na diferença e na riqueza acrescida que significa o intercâmbio, no resultado positivo do contacto das diferenças entre si e continua a estimular projectos entre os dois povos “ e...” faz uma pausa, com um sorriso meio de admiração, meio divertido “…Punta Úmbria fica mesmo aqui ao lado”, sorri abertamente por sentir óbvio o que expõe, “as línguas têm a mesma origem, a cultura portuguesa tem riquezas incríveis, a todos os níveis. Os portugueses e os espanhóis têm raízes comuns, têm diferenças e pontos de encontro muito fortes, faz todo o sentido que se conheçam melhor um ao outro”. Stabile sonha com estender o interesse pela cultura e o acesso a ela, ao maior número de pessoas possível. “A cultura não deve ser algo que pertença só a certas elites. A cultura deveria ser acessível ao maior número de pessoas possível e é preciso que as pessoas assimilem, é preciso que entendam essa cultura que lhes chega, senão nada faz sentido”.
Texto e fotos de Paula Ferro

jornalismo - outros temas - Santa Luzia - Requalificação da marginal

in Postal do Algarve - Junho de 2007

Santa Luzia com novo visual

“Desapareceu o mau cheiro e tem uma bonita marginal”

“Vai ser concluído o resto da requalificação da avenida”


O dia da Cidade de Tavira, 24 de Junho, foi comemorado em Santa Luzia de modo muito significativo para a vila. Entre outras razões para comemorar destacam-se a inauguração da requalificação da Av. Duarte Pacheco, a marginal de Santa Luzia e a assinatura da escritura pública da cedência do terreno para a construção da nova sede do Clube Recreio e Desporto Santaluziense.
Carlos Belhi, Presidente da Junta de Freguesia de Santa Luzia, mostrou a sua satisfação por “este dia brilhante para Santa Luzia em virtude de Orlando Baptista ter sido distinguido com a medalha de mérito desportivo grau cobre; pela inauguração da requalificação da Avenida Engº Duarte Pacheco, antigamente um lamaçal no Inverno e um monte de poeira no Verão, transformada numa das talvez mais lindas avenidas do Algarve;” afirmou, “ porque a seguir à obra do Porto de Abrigo vai ser concluído o resto da requalificação da avenida; pela assinatura publica da cedência do terreno para a construção da nova sede do Clube Recreio e Desporto Santaluziense; e ainda pelo lançamento do segundo livro do Rui Salvé-Rainha sobre a história de Santa Luzia, desta vez, sobre a história do nosso Clube.” Ao POSTAL DO ALGARVE Carlos Belhi afirma que “é uma honra e um privilégio muito grande Santa Luzia ter começado a mexer nesta altura, no meu mandato. São obras que a Câmara vem programando ao longo dos anos, que todos aqueles que passaram pela Junta de Freguesia lutaram para que se realizassem, por que eu lutei, por que todo o executivo da Junta lutou, para que se tivessem tornado realidade”, sorriu, “Está aqui um bocadinho do nosso esforço também.” Carlos mostrava bem o seu contentamento por “ver isto aparecer, ver a cara de satisfação das pessoas!? Está lindo!”
Macário Correia, presidente da Câmara, num discurso aberto e simples, mostrou a sua satisfação pelo aspecto bonito e asseado que agora apresenta a marginal de Santa Luzia. Falou da importância social e histórica do Clube Recreio e Desporto Santaluziense, da forma como este marcou as vidas e as famílias das pessoas que formam a população desta vila. Afirmou que as novas instalações do clube são uma promessa assumida diante de todos. Depois da cerimónia, juntamente com a família, misturou-se na festa durante a qual comunicou ao POSTAL DO ALGARVE que estava contente porque “de facto hoje é um bonito dia para Santa Luzia, desapareceu o mau cheiro e em vez disso tem uma bonita marginal, muito bem tratada que fica como um grande espaço de lazer e de recreio, em particular nas noites de Verão. Será a sala de estar de muita gente que aqui vive e que aqui passa férias.” Confirmou que “estamos a preparar o lançamento da obra do Porto de Abrigo e depois o arranjo da outra parte da marginal também. Espero que Santa Luzia dentro de pouco tempo fique ainda mais bonita, em particular esta parte da marginal, um espaço de estadia fundamental.”
Rui Salvé-Rainha falou do seu livro e do Clube, factos históricos importantes sobre a realidade da vila e dos percursos das suas gentes. “A apresentação deste livro é o culminar das celebrações dos 75 anos do Clube. Iniciámos estas comemorações no dia 7 de Março que foi quando foram aprovados os estatutos em 1932,” explica Rui Salvé-Rainha ao POSTAL DO ALGARVE,Agora que já publiquei dois livros sobre Santa Luzia, penso fazer um livro sobre Tavira, a parte religiosa, estou envolvido com a Igreja da Carmo, sou Presidente da Ordem Terceira da Nossa Senhora do Carmo há quinze ou dezasseis anos. Há muitas histórias sobre o Carmo distribuídas por vários livros. Eu e o Délio Lopes já estamos investigando sobre isso.”



Texto e fotos de Paula Ferro

Jornalismo - outros temas - cães no lixo

in Postal do Algarve - Fevereiro 2008

Cães adultos violentados encontrados no caixote do lixo

Dois cães estavam mortos e um apresentava traumatismo craniano forte

O animal apresentava sintomas de maus-tratos crónicos

Foram encontrados três cães no caixote do lixo ao pé do Cemitério em Santo Estêvão no passado dia 20. Dois dos cães encontravam-se mortos com ar de terem sido violentados e um, ainda vivo, sofria de traumatismo craniano muito forte. Valerie Morton que habita nas redondezas de Sto Estêvão foi despejar o lixo quando ouviu uns ruídos que a fizeram pensar em cachorros abandonados “porque é costume fazerem isso por aqui”, contou Valerie ao POSTAL DO ALGARVE.
Eram cerca das 18 horas e o céu já escurecia. Chamou o marido, Mathew Morton, que aguardava no carro com as crianças. Mathew necessitou de retirar o lixo quase todo do contentor para chegar aos animais, os três já adultos, aparentemente empacotados em caixas de papelão já ensanguentadas. O casal não fala português mas tentou pedir auxilio como podia. Clarisse que mora ali perto ouviu o barulho e foi ver o que se passava. “O animal que estava vivo fazia uns barulhos que nem sei o que pareciam” explicou, “vinham de dentro, lá do fundo do animal. Não era bem choro, era pior, um barulho estranho. Tinha a cabeça toda rebentada. Fiquei por vida não ter!”. Sem saber o que fazer chamou Cynthia Vero também moradora dos arredores de Santo Estêvão porque “ela é muito amiga dos animais,” explicou-nos Clarisse.
Cynthia observou os cães, “vi que pelos outros dois nada podia fazer”, contou-nos, “agarrei no que estava vivo, meti-o no carro e levei-o à clínica particular que fica rente ao rio, perto da ponte nova, em Tavira, onde têm serviço de urgências 24 horas por dia”. Aí foi atendida por Hélder Pereira, o veterinário de serviço. Hélder Pereira declarou ao POSTAL DO ALGARVE que “o animal trazia coleira mas não tinha micro chip. Era cruzado de podengo, apresentava traumatismo craniano muito forte e sinais de ter sido atropelado ou violentado. Apresentava também lesões de semanas ou meses, sinais de maus-tratos crónicos. Encontrava-se extremamente magro e debilitado”. O animal não conseguiria sobreviver e foi eutasianado.
Foi chamado ao local o Presidente da Junta de Freguesia, José Liberto Graça que indignado, contactou as autoridades. A GNR esteve presente e tomou nota da ocorrência.
Contactado pelo POSTAL DO ALGARVE, José Liberto mostrou-se verdadeiramente incomodado pela situação, não compreende “como há seres humanos que podem cometer atitudes com tanta crueldade”. Afirmou que já não é a primeira vez que coisas deste género ali acontecem. “Há meses abandonaram no caixote do lixo uma série de cães recém-nascidos, felizmente que foram encontrados vivos e houve pessoas que os levaram para casa”.
Se não querem os cães pequenos esterilizem as cadelas. E para quem gosta de levar animais para casa quando são pequenos porque tudo o que é pequeno tem graça, mas quando eles crescem e começam a ser um cargo de que apetece desfazer, ou apenas acreditam que pelo animal estar dependente e indefeso podem sobre ele despejar as suas revoltas e más disposições, possivelmente de nada serve apelar a uma sensibilidade que afinal de contas não existe, mas é bom relembrar que violentar animais é crime punido por lei.

Paula Ferro