Vasco Vidigal nasceu em Lisboa em 1958, frequentou o Curso de Iniciação às Artes Plásticas na Sociedade Nacional de Belas Artes (1988/89) e realizou o programa completo de estudos do Ar.Co. em Lisboa entre 1990 e 1997. Desde 2003 dinamiza o espaço Artadentro com Ana André onde neste se encontra até dia 16 do corrente mês, uma exposição de trabalhos seus intitulada “Beat Around the Bush” onde o desafio não é chegar a um lado específico e sim o percurso, o caminho, é a contínua descoberta de novos pontos de vista sobre o mundo.
Postal do Algarve - Quando é que sentiu que havia em si alguma tendência para a arte?
Vasco Vidigal – O mundo das imagens sempre foi importante para mim. A consciência que era nesta área que eu queria trabalhar tenha surgiu já um pouco tarde, com vinte e cinco anos. Mas a coisa esteve sempre latente. É uma questão de vocação. Alguém disse que a vocação é uma decisão que decide por nós.
Foi nessa altura que adquiriu formação artística?
A formação veio um bocado mais tarde. Entretanto tive outras actividades também ligadas ao mundo das artes mas a formação na Sociedade Nacional das Belas Artes e depois, de 90 a 97 no Ar.Co. Antes disso naturalmente já desenhava e desenhava como muita gente faz aqui no Algarve, era autodidacta. Até que percebi que era preciso aprender, era preciso ter mestre e isso foi o que me levou a ingressar primeiro na Sociedade Nacional de Belas Artes e que depois no Ar.Co.
É mesmo necessário aprender com mestres?
Acho que sim, na História de Arte não há nenhum exemplo de autodidactas assim…
Van Gogh…
O Van Gogh frequentou vários ateliers em Paris e teve outros colegas com quem trabalhou antes de chegar a Paris. A escola de Arte é um fenómeno relativamente recente. Antigamente aprendia-se nas oficinas. Não conheço na História de Arte nenhum exemplo de um autodidacta puro. As pessoas aprendem sempre com alguém. Não tem que se frequentar uma escola como nós a entendemos hoje mas de facto é preciso aprender.
O que é que se aprende?
O que é que se aprende? Aprende-se o domínio das linguagens, a técnica. Pode-se aprender quais são os livros que se devem ler para se perceber alguma coisa de História de Arte e de teoria de arte e de estética mas, depois de saír da escola dominando os aspectos teóricos, as técnicas, tem que saber o que é que vai fazer com isto. Essa é a parte difícil e é isso que faz o artista. Ninguém pode ensinar uma pessoa a ser artista. Isso não depende das escolas nem dos currículos.
O que é para si um artista?
Não é para mim porque eu não tenho nenhuma autoridade para designar uma obra como obra de arte ou um autor como artista.
Bem, o artista normalmente é uma pessoa muito consciente do mundo em que vive, uma pessoa lúcida. Acho que esse grau de consciência é muito importante para uma obra artística consistente. Mas o que define o artista é o reconhecimento que a sua obra obtém junto das pessoas que têm autoridade nessa matéria. A primeira fase do reconhecimento de um artista ou de uma obra de arte faz-se num círculo íntimo dos próprios colegas e depois o reconhecimento poderá vir da parte da crítica, dos jornalistas, enfim, do público em geral.
Mas uma obra de arte tem que ser proposta pelo próprio artista como tal.
Com certeza! O artista propõe e tem que ter essa consciência. É uma das características de qualquer actividade artística: o reconhecimento faz-se sempre pelos outros. Há pessoas que pintam umas coisas e depois dizem: “Eu sou artista! Eu sou um artista plástico!” (risos). As coisas não são bem assim.
Há muita indefinição.
Há muita indefinição por ignorância. As pessoas não pensam sobre estes assuntos e não procuram esclarecimento. Não procuram saber de facto o que é que faz de um trabalho uma obra de arte.
Desenha e pinta com regularidade.
Hum!... Não é com regularidade. Vou desenhando, vou pintando. Já há dois anos que quase não trabalhava por causa deste projecto o Artadentro. Não tinha tempo para ir ao atelier e para me dedicar aos meus projectos. Bem, fui sempre trabalhando. Fui trabalhando sobretudo no campo das ideias, preparando projectos, pensando as coisas mas não realizei obra, este ano é que decidi fazer uma exposição, vou ter que fazer qualquer coisa porque é um bocado
angustiante estar sempre a trabalhar com obras de outros autores por via do projecto Artadentro e eu não pintar, não desenhar e ter projectos para realizar.
Quando pinta ou desenha, fá-lo metodicamente?
Não sou muito metódico. Normalmente trabalho por projectos. Trabalho a partir de ideias e essas ideias podem ser bem servidas através do desenho e da pintura mas podem ser melhor servidas através da escultura ou da fotografia ou de outra coisa qualquer. Começo sempre por um desenho. Para servir esta ideia é preciso fazer isto e aquilo. O objecto que eu quero é este. Depois de estas coisas estarem definidas vou resolver os problemas técnicos. Se é para fazer uma coisa em metal, mando fazer ou aprendo a fazer para realizar o objecto. Normalmente trabalho assim. O projecto seguinte pode ser pintura ou outra coisa qualquer. Não há nenhuma regra definida para o meu trabalho. Não é aquele tipo de trabalho característico dos pintores, embora a minha formação tenha começado por ser em pintura, em que as pessoas vão trabalhando sempre a pintura ao longo do tempo, “x” horas de atelier por dia com duas ou três exposições por ano e vão desenvolvendo a sua linguagem e apurando o seu trabalho. Não é assim que eu faço. É por blocos. Por um lado traz dificuldades, por outro tem vantagens porque evita determinado tipo de rotinas.
Existe uma mensagem no seu trabalho?
Não, não tenho nenhuma mensagem (risos). Não, não (risos) nada de mensagens! Não tenho nada para ensinar às outras pessoas. Isso é ridículo, quer dizer… (olhando para mim com um ar bastante divertido) Sou uma pessoa normal como as outras, não tenho nenhuma verdade aqui na manga para resolver os problemas da Humanidade. Os trabalhos que faço quanto muito podem suscitar interrogação. Têm a ver com auto aprendizagem. Gosto de aprender, sou curioso e os meus trabalhos servem para reflectir sobre um determinado número de questões que podem ter a ver com o mundo da arte ou com o mundo de todos nós, que nos rodeia. Mas no máximo pode ser entendido como apontar o dedo a… Atenção! Considerem as coisas desta forma. Façam lá esta experiência! Não há aqui uma mensagem. A função do artista é apontar, escolher, é optar. O que se faz é isso, apontar para determinado aspecto do mundo ou da arte. Este projecto do Beat Around the Bush é uma coisa, como o próprio nome indica que não tem nada para dizer. Há uma espera pelo momento certo. Foi um projecto pensado para meu próprio prazer, para me sentir livre, para poder fazer um carvão, um guache, um projecto que é feito para mim.
Transpiração e inspiração?
Quando ouço falar nessa coisa da inspiração, eu associo sempre isso a uma certa ideia de flash. Instantâneo. As pessoas estão assim a jantar ou a fazer qualquer coisa e de repente são iluminadas por uma ideia genial e a seguir vão materializar essa ideia numa obra qualquer e faz uma coisa extraordinária. Isso comigo nunca aconteceu. Nunca são flashes, são coisas que vão acontecendo, as ideias vão-se desenvolvendo, vão criando um corpo e depois se forem suficientemente interessantes dão origem a uma obra, a um projecto.
E o projecto Artadentro?
Aconteceu por acaso. Os factores conjugaram-se e o fez sentido realizar qualquer coisa. Não havia no Algarve, nenhum projecto deste género de arte contemporânea. É um projecto de divulgação e promoção da arte contemporânea. Sentíamo-nos vocacionados para trabalhar com gente mais nova, com aquilo que está mesmo a aparecer, com as novidades. Mas é preciso temperar mostrando obras de autores já reconhecidos Gostamos de fazer uma mistura de artistas em vários estados de afirmação. Desde os consagrados, a artistas em afirmação de carreira até primeiras exposições individuais. Outra coisa é sempre tentar mostrar coisas diferentes, nós não temos uma linha estética. Procuramos na medida do possível dar um panorama das várias linhas estéticas que existem no nosso mundo artístico. A Artadentro não se esgota na galeria. Já fizemos alguns projectos fora da galeria. Tentamos levar as coisas mais perto das pessoas. E Participámos com projectos na Capital da Cultura e temos mais algumas ideias para desenvolver que fazem mais sentido noutros locais. Teremos que contactar com Câmaras Municipais e outras instituições. O nosso espaço não é muito grande e há coisas que pedem outro tipo de condições. As pessoas não têm muito o hábito de frequentarem as exposições, até porque há poucas por isso faz sentido um esforço para a criação de públicos, tentar levar exposições que nós consideramos interessantes até outros locais para além de Faro.
Vasco Vidigal – O mundo das imagens sempre foi importante para mim. A consciência que era nesta área que eu queria trabalhar tenha surgiu já um pouco tarde, com vinte e cinco anos. Mas a coisa esteve sempre latente. É uma questão de vocação. Alguém disse que a vocação é uma decisão que decide por nós.
Foi nessa altura que adquiriu formação artística?
A formação veio um bocado mais tarde. Entretanto tive outras actividades também ligadas ao mundo das artes mas a formação na Sociedade Nacional das Belas Artes e depois, de 90 a 97 no Ar.Co. Antes disso naturalmente já desenhava e desenhava como muita gente faz aqui no Algarve, era autodidacta. Até que percebi que era preciso aprender, era preciso ter mestre e isso foi o que me levou a ingressar primeiro na Sociedade Nacional de Belas Artes e que depois no Ar.Co.
É mesmo necessário aprender com mestres?
Acho que sim, na História de Arte não há nenhum exemplo de autodidactas assim…
Van Gogh…
O Van Gogh frequentou vários ateliers em Paris e teve outros colegas com quem trabalhou antes de chegar a Paris. A escola de Arte é um fenómeno relativamente recente. Antigamente aprendia-se nas oficinas. Não conheço na História de Arte nenhum exemplo de um autodidacta puro. As pessoas aprendem sempre com alguém. Não tem que se frequentar uma escola como nós a entendemos hoje mas de facto é preciso aprender.
O que é que se aprende?
O que é que se aprende? Aprende-se o domínio das linguagens, a técnica. Pode-se aprender quais são os livros que se devem ler para se perceber alguma coisa de História de Arte e de teoria de arte e de estética mas, depois de saír da escola dominando os aspectos teóricos, as técnicas, tem que saber o que é que vai fazer com isto. Essa é a parte difícil e é isso que faz o artista. Ninguém pode ensinar uma pessoa a ser artista. Isso não depende das escolas nem dos currículos.
O que é para si um artista?
Não é para mim porque eu não tenho nenhuma autoridade para designar uma obra como obra de arte ou um autor como artista.
Bem, o artista normalmente é uma pessoa muito consciente do mundo em que vive, uma pessoa lúcida. Acho que esse grau de consciência é muito importante para uma obra artística consistente. Mas o que define o artista é o reconhecimento que a sua obra obtém junto das pessoas que têm autoridade nessa matéria. A primeira fase do reconhecimento de um artista ou de uma obra de arte faz-se num círculo íntimo dos próprios colegas e depois o reconhecimento poderá vir da parte da crítica, dos jornalistas, enfim, do público em geral.
Mas uma obra de arte tem que ser proposta pelo próprio artista como tal.
Com certeza! O artista propõe e tem que ter essa consciência. É uma das características de qualquer actividade artística: o reconhecimento faz-se sempre pelos outros. Há pessoas que pintam umas coisas e depois dizem: “Eu sou artista! Eu sou um artista plástico!” (risos). As coisas não são bem assim.
Há muita indefinição.
Há muita indefinição por ignorância. As pessoas não pensam sobre estes assuntos e não procuram esclarecimento. Não procuram saber de facto o que é que faz de um trabalho uma obra de arte.
Desenha e pinta com regularidade.
Hum!... Não é com regularidade. Vou desenhando, vou pintando. Já há dois anos que quase não trabalhava por causa deste projecto o Artadentro. Não tinha tempo para ir ao atelier e para me dedicar aos meus projectos. Bem, fui sempre trabalhando. Fui trabalhando sobretudo no campo das ideias, preparando projectos, pensando as coisas mas não realizei obra, este ano é que decidi fazer uma exposição, vou ter que fazer qualquer coisa porque é um bocado
angustiante estar sempre a trabalhar com obras de outros autores por via do projecto Artadentro e eu não pintar, não desenhar e ter projectos para realizar.
Quando pinta ou desenha, fá-lo metodicamente?
Não sou muito metódico. Normalmente trabalho por projectos. Trabalho a partir de ideias e essas ideias podem ser bem servidas através do desenho e da pintura mas podem ser melhor servidas através da escultura ou da fotografia ou de outra coisa qualquer. Começo sempre por um desenho. Para servir esta ideia é preciso fazer isto e aquilo. O objecto que eu quero é este. Depois de estas coisas estarem definidas vou resolver os problemas técnicos. Se é para fazer uma coisa em metal, mando fazer ou aprendo a fazer para realizar o objecto. Normalmente trabalho assim. O projecto seguinte pode ser pintura ou outra coisa qualquer. Não há nenhuma regra definida para o meu trabalho. Não é aquele tipo de trabalho característico dos pintores, embora a minha formação tenha começado por ser em pintura, em que as pessoas vão trabalhando sempre a pintura ao longo do tempo, “x” horas de atelier por dia com duas ou três exposições por ano e vão desenvolvendo a sua linguagem e apurando o seu trabalho. Não é assim que eu faço. É por blocos. Por um lado traz dificuldades, por outro tem vantagens porque evita determinado tipo de rotinas.
Existe uma mensagem no seu trabalho?
Não, não tenho nenhuma mensagem (risos). Não, não (risos) nada de mensagens! Não tenho nada para ensinar às outras pessoas. Isso é ridículo, quer dizer… (olhando para mim com um ar bastante divertido) Sou uma pessoa normal como as outras, não tenho nenhuma verdade aqui na manga para resolver os problemas da Humanidade. Os trabalhos que faço quanto muito podem suscitar interrogação. Têm a ver com auto aprendizagem. Gosto de aprender, sou curioso e os meus trabalhos servem para reflectir sobre um determinado número de questões que podem ter a ver com o mundo da arte ou com o mundo de todos nós, que nos rodeia. Mas no máximo pode ser entendido como apontar o dedo a… Atenção! Considerem as coisas desta forma. Façam lá esta experiência! Não há aqui uma mensagem. A função do artista é apontar, escolher, é optar. O que se faz é isso, apontar para determinado aspecto do mundo ou da arte. Este projecto do Beat Around the Bush é uma coisa, como o próprio nome indica que não tem nada para dizer. Há uma espera pelo momento certo. Foi um projecto pensado para meu próprio prazer, para me sentir livre, para poder fazer um carvão, um guache, um projecto que é feito para mim.
Transpiração e inspiração?
Quando ouço falar nessa coisa da inspiração, eu associo sempre isso a uma certa ideia de flash. Instantâneo. As pessoas estão assim a jantar ou a fazer qualquer coisa e de repente são iluminadas por uma ideia genial e a seguir vão materializar essa ideia numa obra qualquer e faz uma coisa extraordinária. Isso comigo nunca aconteceu. Nunca são flashes, são coisas que vão acontecendo, as ideias vão-se desenvolvendo, vão criando um corpo e depois se forem suficientemente interessantes dão origem a uma obra, a um projecto.
E o projecto Artadentro?
Aconteceu por acaso. Os factores conjugaram-se e o fez sentido realizar qualquer coisa. Não havia no Algarve, nenhum projecto deste género de arte contemporânea. É um projecto de divulgação e promoção da arte contemporânea. Sentíamo-nos vocacionados para trabalhar com gente mais nova, com aquilo que está mesmo a aparecer, com as novidades. Mas é preciso temperar mostrando obras de autores já reconhecidos Gostamos de fazer uma mistura de artistas em vários estados de afirmação. Desde os consagrados, a artistas em afirmação de carreira até primeiras exposições individuais. Outra coisa é sempre tentar mostrar coisas diferentes, nós não temos uma linha estética. Procuramos na medida do possível dar um panorama das várias linhas estéticas que existem no nosso mundo artístico. A Artadentro não se esgota na galeria. Já fizemos alguns projectos fora da galeria. Tentamos levar as coisas mais perto das pessoas. E Participámos com projectos na Capital da Cultura e temos mais algumas ideias para desenvolver que fazem mais sentido noutros locais. Teremos que contactar com Câmaras Municipais e outras instituições. O nosso espaço não é muito grande e há coisas que pedem outro tipo de condições. As pessoas não têm muito o hábito de frequentarem as exposições, até porque há poucas por isso faz sentido um esforço para a criação de públicos, tentar levar exposições que nós consideramos interessantes até outros locais para além de Faro.
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