sábado, 30 de agosto de 2008

Jornalismo - eventos importantes - Joana Vasconcelos no Palácio da Galeria em Tavira

in Postal do Algarve - Março 2007

Al(mas) de Joana Vasconcelos no Palácio da Galeria.

A instalação é o novo caminho da Arte.


O Palácio da Galeria inaugurou uma exposição de Joana de Vasconcelos intitulada "Al(mas)" no passado sábado. Joana Vasconcelos é considerada como a jovem artista portuguesa mais marcante nos últimos anos. Trabalha sobretudo no domínio da escultura e da instalação. Estudou Joalharia e Desenho no Ar-Co, onde foi professora de escultura. “Na joalharia aprendi a pensar tecnicamente e como construir uma peça. A Joalharia é muito exigente nesse aspecto.” Explicou Joana ao POSTAL DO ALGARVE. “No desenho aprendi a olhar, a representar. A joalharia e o desenho dão aquilo que é preciso para fazer escultura. Depois é uma questão de escala.” Para a artista a instalação é o novo caminho da Arte. “A diversidade, o multiculturalismo, as fronteiras abertas, fazem com que o tratamento também esteja multicultural.” Afirma. Perde-se portanto a ideia clássica do escultor na pedra trabalhando sempre o mesmo material. Neste momento todos os materiais estão disponíveis com uma informação. O escultor clássico ía do material para a ideia. Agora vai-se da ideia para o material. “ Chego aos materiais não por eles mas por aquilo que quero fazer.” Conta Joana VasconcelosQuero mostrar o que é a contemporanização. O que é que é o luxo em Portugal? Como é que eu vou representar isso? E chego à conclusão que é com talheres de plástico.” Uma das salas contem um coração de Viena, um coração de filigrana, vermelho, com quase 5 metros de altura que gira sobre si, brilhando, ao som da voz de Amália. Faz parte de uma trilogia, a trilogia do fado: Ouro, Sangue e Morte. Este é o Sangue e não tinha sido mostrado antes em Portugal. O que a artista pretende mostrar é que esta peça, sendo de plástico, tem tanta vida e brilho como se de ouro se tratasse, logo, os materiais podem ser nobres ou não, de acordo com o uso que lhes damos. Uma jóia de plástico tem tanto impacto quanto uma jóia de ouro ou de prata. Todos os materiais podem ser nobres se soubermos aplicá-los como tal. A contemporanização do luxo.
Nesta instalação podemos encontrar diversas salas com diferentes músicas, diferentes sons, aliados a iluminações adequadas ao diálogo dos objectos que nelas se encontram instalados. Instalar não é colocar objectos ao acaso. A instalação tem a ver com a colocação no espaço, a relação entre os meios. Todas as peças têm um jogo com a arquitectura, com a luz, com o som. Tudo isto forma um ambiente.
Duas das salas são inteiramente inéditas, uma delas representa os caranguejos da Ria Formosa. Peças ampliadas por Bordalo Pinheiro cobertas por renda. Três peças colocadas em cima de púlpitos com uma disposição específica, com uma determinada iluminação. “Se fosse apenas uma, no púlpito, seria uma escultura clássica.” Explica Joana. “O facto de serem três, de estarem dispostas de determinada maneira, com determinada luz é que faz delas uma instalação. Estas peças estão instaladas, não são só colocadas. Há toda uma relação.” Outro momento forte é a sala seguinte, as Algemas. “Algemas em espanhol quer dizer algemas e quer dizer mulheres. É interessante usar-se a palavra algemas também com o significado de mulheres.” Vai explicando Joana no seu ar tranquilo e despreocupado. “Estas mulheres estão presas aos seus homens mas esta peça não seria a mesma coisa se não estivesse ali aquela fotografia da senhora real também com as algemas. O real representado e o irreal verdadeiro. A imagem é do real e a realidade é uma imagem de…”. Outro momento forte é a sala onde se encontram as imagens de Nossa senhora de Fátima. Várias, de vários tamanhos, com uma iluminação em movimento enquanto na parede podemos ver passar um vídeo da viagem feita por Joana seguindo o percurso dos peregrinos a Fátima ao som do Bolero de Ravel e da música da Pantera Cor de Rosa. As Santas, todas agrupadas e arrumadas. A multiplicidade de objectos tão costumeiro em Joana Vasconcelos como demonstração da “estética de supermercado” representando em simultâneo o altar e a banquinha de venda. O religioso e o consumo no mesmo instante.
As “21 Maravilhas” outra sala inédita, apenas com a passagem de um vídeo de várias senhoras sentadas, sempre na mesma posição, fazendo renda, rodando, tendo como fundo algumas maravilhas de Portugal, como a Biblioteca de Mafra, o Palácio de Queluz, o Palácio da Pena, a Torre de Belém… Uma peça inacabada que gera a sala ao lado, A Valquíria, por isso também inacabada, toda em renda. A renda que as senhoras do vídeo estão pacientemente a fazer.
Esta exposição está patente ao público até dia 2 de Junho. De terça a sábado das 10 horas às 12 e 30 horas e das 14 horas às 17 e 30 horas. Vale a pena ir ver e ficar... a observar e a abrir outras formas de pensar.
Paula Ferro


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