quinta-feira, 18 de março de 2010

jornalismo - Isabel Baraona


in ".S" - caderno de artes do "Postal do Algarve"


Janeiro 2010




“folhas, páginas e outros desenhos” de Isabel Baraona

Isabel Baraona nasceu em 1974 em Cascais. Em 1996 conclui o curso de Introdução à Escultura, Pintura, Vidro e Desenho pelo Centro de Arte e Comunicação Visual (AR.CO), em Lisboa, e em 1997 o bacharelato em Artes Decorativas pela Escola Superior de Artes Decorativas na Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, em Lisboa. Em 2002 licencia-se em Pintura e Pesquisa Tridimensional na Ecole Nationale Supérieur dês Artes de La Cambre, em Bruxelas, Bélgica, e em 2006 faz uma pós-graduação em Pintura pela faculdade de Belas Artes de Lisboa. Desde 2003, é docente na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha. Começa a expor em 2001.

Uma narrativa mental construída através de imagens

“folhas, páginas e outros desenhos” tem estado patente ao público, e regressa, de 19 de Janeiro a 6 de Fevereiro de 2010, à Artadentro, em Faro. Trata-se de uma exposição de livros, feitos em desenho, e do processo de construção desses mesmos livros, da autoria de Isabel Baraona.

Isabel Baraona é uma artista cuja matéria de expressão é o desenho estruturado em forma de objecto-livro. Não se trata de catálogos ou compilações aleatórias de desenhos, são desenhos feitos com o objectivo de serem livros. A sua organização é ponderada, propositada, significativa, com uma sequência que conduz a uma leitura típica da narrativa. Existem estórias que se cruzam, e personagens que aparecem em várias estórias. “Estamos a falar de uma narrativa mental que é construída através de imagens”, elucida Isabel Baraona, “tenho personagens em mente e a intuição do que eles vão fazer, mas não sou escritora, não construo estes livros com base numa narrativa com princípio, meio e fim. Vou elaborando. Há livros que foram feitos em simultâneo, o que provavelmente dá azo a que personagens se repitam”.

Contar estórias sempre esteve presente no seu trabalho, “tenho séries de desenhos anteriores sobre os contos infantis, sobre os contos de fados e as mitologias”, mas agora, os desenhos são “feitos para serem impressos e apresentados em livro”.

A palavra também existe, mas aqui “é uma pontuação, é uma imagem. É uma palavra que é desenhada”, explica a artista, “as palavras acontecem enquanto desenho, enquanto caligrafia, enquanto pequenas pistas para as cenas de inter-acção entre os personagens, mas, evidentemente que não estamos a falar de prosa, nem de poesia, nem da leitura de um texto enquanto texto”.

Um livro para o qual eu espreito

Ao todo são cinco livros. O processo durou dois anos. “Agora que concluí este projecto dos livros, achei que seria interessante confrontar a colecção de livros com os desenhos originais”.

Um dos aspectos atraentes desta exposição é o facto de se poder comparar “a escala em que o desenho está reproduzido com a escala em que o desenho inicialmente foi feito” e o modo como a artista foi pensando, adaptando, e elaborando. “No processo criativo há sempre surpresas e também coisas que nós podemos planear muito, mas não há um domínio total”.

Outro aspecto a relevar é a aproximação do desenho, o carácter intimista como este nos é oferecido, “pelo facto de ser livro, uma forma que nos obriga a um contacto directo, poder-se-ia dizer ‘de mão em mão’ ou até ‘mãos nas mãos’, que nos obriga a observá-lo de um modo diferente do que seria” apresentado em exposição. Mesmo com os desenhos ordenados do mesmo modo, o facto de estarem expostos cria uma relação muito diferente do manusear um livro “que nos obriga a lê-lo. Aí reside toda a diferença, força, presença”. Por ser em livro e por ser “deste tamanho, intimista, um objecto que cabe nas mãos, quase de bolso. Pode-se esconder, guardar e é fácil manipular”. A escala do livro casa-se com o intimismo da acção dos personagens. “Não fazia muito sentido ser um livro grande, do qual tenho que me distanciar para ver. Faz sentido ser um livro para o qual eu espreito”.

Paula Ferro

jornalismo - Rico Sequeira









in ".S" - caderno de artes do "Postal do Algarve"




Janeiro 2010





Rico Sequeira expõe no Palácio da Galeria













Referências que se misturam criando um universo de universos




Rico Sequeira nasceu em Portugal, em 1954. Estudou no Luxemburgo, nos EUA. O convívio com outros artistas foi sempre uma constante. Nomes como António Inverno, João Vieira, João Botelho, Malagatana… povoam as suas histórias de vida e de aprendizagem fluida.




Foi músico profissional mas vendeu toda a aparelhagem para se dedicar à pintura. “Retirou-se” para o Museu do Prado, em Madrid, onde passava os dias a desenhar as obras de Goya. Isso marcou-o para sempre no modo de olhar.




O seu percurso expositivo inicia-se em 1982 e regista-se em vários países, entre os quais se destaca Portugal, Espanha, França, Alemanha, Luxemburgo, Brasil e Argentina. Entre exposições individuais e colectivas em galerias, foi convidado a expor em vários museus, como o Museu de Payerne (Suiça) e o Museu Meistermann (Alemanha) e também em Feiras e Salões Internacionais de Arte, como sejam a ARCO, a FAC e no Salão Grands et Jeunes.




Ser coleccionador é para Rico Sequeira uma forma de estar na sua arte. Colecciona, entre outras coisas, originais de banda desenhada que integram vários dos seus projectos como o de Tavira.




Serve-se de originais de outros artistas. “A obra nasce do encontro de objectos. Qualquer coisa que vejo: papéis bonitos, folhas de provas mal impressas… interessam-me. É um trabalho que não foi feito por mim, mas que tem, graficamente, uma estrutura muito importante e que eu introduzo no meu trabalho”.




É também escultor. “Gosto de escultura mas não sou escultor de partir pedra”. Busca o caminho mais eficaz. “Recorto o tecido, mando cozer, encho de algodão e faço o molde. As coisas têm que ser muito práticas e muito simples”.




O seu trabalho incide essencialmente sobre a pintura e o desenho, duas técnicas que frequentemente se confrontam embora algumas vezes se consigam conciliar, quando realmente se conseguem esbater e misturar, uma na outra, dentro da mesma obra.




“Sempre gostei muito de desenhar”. Diz não dar qualquer importância à cor. “Essa parte da pintura pinta, pinta, é um bocado animalesco”. Rico é mais suave, mais concebível, no seu trabalho, e o verdadeiramente importante é o desenho. “As cores são bonitas mas se estiver uma paleta ali, o que me vier à mão é que eu ponho. O Matisse já dizia que quando o desenho está bem construído, está tudo bem!”




No entanto, Rico Sequeira pinta, e não só pinta, como só usa as tintas que faz. “Compro o pigmento e faço as minhas cores. Assim dou-lhes a dimensão que quero”.




O seu traço é gestualista e cria um efeito plástico de aleatoriedade, no entanto, é o resultado de uma súmula de gestos que já contém em si o pensado. “Gostava de ser um pintor abstracto mas não consigo”, confessa. E enceta uma conversa sobre o poder do escondido, do que está por baixo da tela que se pinta e de como esse escondido faz parte da própria obra.




Usa frequentemente técnicas mistas com colagens. Estas são a ponte entre a pintura e a originalidade da banda desenhada.


“Hops! Tom & Rico”: BD de Rico Sequeira

“’Hops! Tom & Rico’: BD de Rico Sequeira” é a exposição que se encontra patente ao público no Palácio da Galeria, em Tavira, até ao dia 30 de Janeiro de 2010.

Trata-se de um projecto antigo de Rico Sequeira que aqui se materializou. Uma espécie de “bomba-informação” provinda de milhentos lugares. Referências que se misturam criando um universo de universos que se aglutinam através do génio criador do artista, unidade da multiplicidade que é o mundo, destacando um lado onírico quase vivo, acrescentado pelo apelo à participação na criação conjunta.

Esta exposição oferece inúmeros encontros de opostos: o desenho e a pintura; a BD e a arte; a palavra que se exprime através da escrita e da escultura, nas onomatopeias, onde o som se congela em forma, apelando a outro modo de olhar esteticamente; a mostra do que existe, do que é, como que “sagrado”, os valiosos originais que o artista se esforça por encontrar por esse mundo fora, “profanados” por uma nova criação que não anula a primeira, antes lhe acrescenta o fluir da vida e do mundo inesgotado e interminado. E no valor estético tudo se equipara, os originais de BD e as provas de impressão mal feita. O que interessa é a estrutura gráfica que estimula o artista a ir mais além na expressão de si próprio como elo harmonizador da multiplicidade.

Para além da vertente informativa (exposição de partes da sua colecção, e das obras de sua autoria apresentadas em diversos formatos), há um lufar de cor em gritaria, um ar de festa e infância à solta e uma proposta num painel: “Estes quadros são para ser pintados pelas pessoas que visitam a exposição. Podem desenhar, escrever”… explica Rico, “depois faço uma intervenção, passo verniz e estes quadros vão constar, no próximo ano, na exposição de Schengen”, no Luxemburgo. E, os traços de quem por aqui passa, misturam-se com o traço do fluir da história, para além-fronteiras, compondo já, as próximas obras de Rico Sequeira.

Paula Ferro



jornalismo - Álvaro de Mendonça

in ".S" - Caderno de Artes do "Postal do Algarve"
25 de Fevereiro de 2010

O poema urgente
Arte como modo permanência



Álvaro de Mendonça (1959), nasceu em Faro. Viveu sempre entregue a vários ramos das artes navegando abaixo da superfície. A arte é um modo de ser, não obstante isso, gosta de frequentar os lugares comuns e os subterrâneos da humanidade onde encontra as suas essências.
Qual é a sua formação?
Escola Superior de Belas Artes (ESBAL) de Lisboa, Pintura. Depois fui dar aulas. A partir de 85.
Gostou?
A princípio gostei apesar de ter sido iniciado sem qualquer preparação. Foi muito bom trabalhar com crianças e adolescentes. Tive a oportunidade de reaprender muitas coisas. A partir de 2005 deixou de fazer sentido pois os professores foram desprezados de forma indigente.
Tem tido um percurso artístico…
Claro! Desenho, pintura, poesia… Desde sempre. E também design gráfico, pois comecei por desenhar embalagens de plástico para produtos congelados.
O seu percurso individual como artista?
Nunca aderi a esquemas comerciais em nada.
Exposições…
Participei em muitas: Colectivas na Escola de Belas Artes, na Sociedade Nacional de Belas Artes, no Casino Estoril… Fiz a primeira individual em 83 no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) a convite da Associação de Alunos. Fiz outras… A última foi na Galeria Trem em Faro e a próxima vai ser no Convento dos Capuchos em Almada.
Quando é que começou a gostar de desenho?
Desde muito cedo. Vivia numa casa à beira de uma floresta. Nasci em Faro mas o meu pai era militar e fomos viver para a zona de Sintra. Aí, passava os dias a desenhar, e tive acesso a um imaginário fabuloso.
Antes da escola?
Sim.
Também escreve…
Sim. Comecei a escrever poesia em Luanda, em 1972. Tinha comprado uma antologia luso-americana onde encontrei, pela primeira vez, o texto “arte poética” de Jorge Luís Borges. Fiquei de tal forma impressionado que me impus começar a escrever e então comecei.
Costuma ler outros poetas?
Leio todos.
Tem preferências?
Sim. Borges e Pessoa, sobre todos. De resto, Coleridge, Eliot, Whitman, Poe, Baudelaire, etc.
E de romance, gosta?
Não é uma questão de gosto. O primeiro livro que comprei na minha vida foi “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski. Tinha treze anos.
Marcou-o?
Sim. Da forma mais impressionante. Não era propriamente um livro para ler naquela idade. O que aconteceu foi uma espécie de impressão profunda.
Impressão como?
Foi algo que me afectou para o resto da vida. Não me apercebi disso quando o li. Mas de facto, estava já perante aquilo que viria a ser o meu processo de destruição da personalidade.
“Tenho o direito de destruir tudo aquilo que construo”
Como assim?
Trata-se da construção de um personagem que passa a habitar o nosso tempo comum. Depois, podemos destruí-lo…
Até que ponto isso se insere na sua obra?
Trata-se de todo o processo de criação. Criação/destruição. Só quem consegue construir o personagem é que pode destruí-lo. Mais ninguém tem esse direito nem essa possibilidade.
Como é que isso interfere no seu processo criativo?
É simples. Eu tenho o direito de destruir tudo aquilo que construo. Tal como o genérico da humanidade. Todos nós imaginamos coisas e, de repente, por um acidente qualquer as esquecemos. É só!
É urgente para si a poesia?
Sempre.
Como é que a vive?
De uma forma natural. Não é a poesia que me interessa, é o modo como se pensa, como se sente o poema.
Trabalha a poesia?
Raramente. Normalmente é a “la prima”. O que sai é o que fica, em termos de escrita. O processo de sentir até chegar à escrita é que é muito mais moroso.
Como é esse processo?
Tem-se modificado muito ao longo do tempo. Quando era adolescente escrevia poesia porque gostava, sentia-me bem e afastava-me das coisas, pegava na máquina de escrever e ia escrever. Depois foi-se modificando. Cada vez mais, começou a virar as coisas ao contrário. Comecei a viver para a poesia.
Como é que se escreve?
Escrever é um momento raro. Acima de tudo tem que se viver o instante. Sem o instante nada existe. A poesia é, de facto, um momento de emoção. Não interessa a escrita. A escrita é um acidente previsto. O poema não se pode escrever… tem que se sentir.
Tem obras publicadas?
Publiquei um livro em 2005. Na altura, uma colectânea de textos recentes.
Mas tem poesia para publicar?
Tenho!
Escritas recentes?
Sim. Todos os dias escrevo um poema. Há mais de mil anos que escrevo um poema todos os dias, agora está a ver, um poema por dia, dá trezentos e sessenta e cinco poemas por ano, ou seja, mais de três mil e seiscentos e cinquenta poemas ao fim de dez anos…Eu ando aqui há séculos, e já escrevi largos milhares de poemas.
E os antigos já estão gastos?
De forma nenhuma. Nós somos sobreviventes da civilização ocidental. Não nos podemos esquecer dos gregos nem dos romanos, nem dos reinos que nos atravessaram. Ulisses é uma referência universal e intemporal, tal como Shakespear, Camões, Dante e Giordano Bruno.
“Desenhar ou escrever é a mesma coisa”
Poesia e desenho?
Para mim desenhar ou escrever é a mesma coisa. Tanto me faz desenhar um poema como escrever um desenho.
Nunca pensou em fazer um livro de artista com poesia e desenho?
Pensei. Tenho isso previsto. Os materiais estão quase prontos.
O que o move?
É a sensibilidade extrema. É a mesma coisa que dizer “não há pão para malucos”!
Desenha sempre a figura humana?
Sempre desenhei a figura humana. Quando comecei a desenhar, rapidamente passei dos bonequinhos para o desenho à vista. Com cinco, seis anos de idade desenhava figuras. Pessoas que via, pessoas que encontrava. Não passei propriamente por aquela fase dos bonecos com as mãos no ar e nuvens na cabeça, passei logo a uma forma figurativa, observada, sem partir do imaginário.
Não passou pelos objectos?
Também. Aliás, o meu pai tinha trazido da Índia uma mala de cânfora com arabescos e rendilhados enormes, esculpidos na madeira… Passava dias e dias a desenhar aquelas coisas. Era o meu grande modelo. No meio daquilo havia muitas figuras humanas que ia criando, que ia mexendo, quando mudava de posição…
Na pintura a figura humana também é central…
Sim. A figura humana é central. É o grande sujeito.
Porquê?
Porque nós somos só reflexo de nós próprios.
Não tem influências de mais ninguém?
Eu sofro de todo o tipo de influências. Todos os autores me afectam. Desde Fídias até Francis Bacon (séc. XX).
E na poesia?
Eu li gregos, romanos e troianos. Li Vergílio. Li na rocha profunda os anónimos que atravessaram a Antiguidade e toda a Idade Média. Recentemente, os textos de Fulcanelli. De resto, agora, Pablo Neruda, Allan Ginsberg…
“Aprendi a ser universal com Borges”
Portugueses?
Aprendi a ser universal com Borges. Não posso limitar-me à nacionalidade, apesar de pensar que, de facto, Pessoa é um ser infinito.
Quem é Pessoa para si?
Nos nossos dias, Pessoa é um escroque. Foi utilizado da forma mais repugnante pelo Estado.
Como assim?
Toda a gente sabe que o único livro que publicou em vida foi uma coisa com noventa e tal páginas. Mas isso serviu para espelhar o Império. O nosso Império.
E o baú?
O baú era dele. Ninguém tinha que ir lá vasculhar. A partir de certa altura, tornou-se moda e símbolo das mais diversas conjecturas intelectuais… vasculhar no baú do Fernando. E toda a gente foi lá buscar coisas, até as mais insignificantes, como rabiscos inúteis em pedaços de papel rasgado. Há dias fui ao Martinho da Arcada beber um copo e já lá não podia entrar. Tive que ficar na esplanada, cá fora, a pensar que podia ir lá dentro sentar-me à mesa com ele. Mas afinal, só lá estava um copo vazio quando todos sabemos que o que ele gostava era de copos cheios. Outra vez, andava eu a passear pela “Feira da Ladra às sete da manhã”, quando olho de soslaio para uma bancada estendida no chão e vejo um título que dizia: “ A Centenary Pessoa”.
Já foi à Casa Pessoa?
Sim. Fui lá passear há tempos com as minhas filhas. Pensava que lhes ia mostrar onde habitava o “Mestre”. Acabei por ter problemas para estacionar o carro e depois lá conseguimos entrar. Estava fechada. Só lá estavam os seguranças que não me souberam dizer nada mas, que nos deixaram entrar. Depois lá vimos a máquina de escrever, restos de textos espalhados e repetidos pelas paredes… e o quartinho onde, de facto, ele terá habitado, sem casa de banho.
O Futurismo diz-lhe alguma coisa?
Pelo que sei, o Futurismo em Portugal era ali no Chiado e às portas da Brasileira. O Santa Rita Pintor dava “estrilho” quando lhe apetecia, uns foram para Paris, uns outros estavam internados em hospícios, outros foram para Londres e alguns outros para Nova Iorque. Quem ficou cá? Foi o Álvaro de Campos que, tinha uma vantagem perante todos os outros, era o facto de não existir.
Quer dizer que o Futurismo não existiu?
Existiu, existiu… mas não serviu para nada. Quem se aproveitou bem foi o Almada.
“Temos que lutar contra a iniquidade”
Porquê?
O Almada sempre foi um poeta medíocre, tal como medíocre foi na expressão plástica… apesar de sustentado pelo marketing intelectual da época. Basta ir à Gulbenkian e olhar para aquele painel que nos obstrui a entrada, ou então, ir ao Cais e olhar para aquelas coisas. O “Quadrado Azul” é para esquecer.
E o Manifesto Anti-Dantas?
O Dantas era um parvalhão, e toda a gente se aproveitava dele, obviamente que o Almada teve que lá dar o seu “peido”. Até os retratos que ele fez do Pessoa são coisas delambidas.
Como se define como pintor?
Sou uma espécie de “neo-neo-expressionista” como diz a Brooke McGowen que agora vive em Nova Iorque.
O que é isso?
É elevar o gesto até à expressão. O “neo-neo-expressionismo” é uma corrente abstracta que resulta de um processo criativo complexo. Tem a ver com uma espécie de “abstracto-convencionismo”, ou seja, se nós conseguimos produzir uma imagem abstracta, também, ao mesmo tempo, conseguimos utilizar uma representação pictórica daquilo que não queremos representar. Pode parecer complicado, mas as coisas são mesmo assim. Uma vez pensámos que seria possível criar uma corrente chamada “abstract-realism”, ou seja, realismo abstracto, mas isso não deu nada, nem nunca há-de dar nada.
Onde encontra a sua inspiração?
Eu não tenho inspirações. Tudo aquilo que faço obedece a uma fórmula concisa.
Pode explicar melhor?
A inspiração é uma imagem metafórica que utilizamos desde que concebemos uma linguagem que tem a possibilidade de expressar a emoção. A emoção é a inspiração.
E a transpiração?
Isso deve ser uma coisa abjecta a que não temos acesso.
E essa história dos 5% de inspiração e 95 de transpiração?
Isso faz-me lembrar a nossa questão animal. Transpiramos pelo que pensamos mas nunca transpiramos por pensar.
Tem algum projecto entre mãos?
Tenho. Aniquilar a personalidade.
Isso é possível?
Sim. Com muito esforço. Temos que lutar contra a iniquidade.
Qual o seu próximo passo?
Destruir-me enquanto autor. E esta é a última entrevista que dou.
Porquê?
É uma questão de coerência.

Paula Ferro

quinta-feira, 11 de março de 2010

Jornalismo - Nuno Faria

in ".S" - Caderno de Artes do Postal do Algarve
28 de Janeiro de 2010


Uma ética que é uma estética

Nuno Faria nasceu em 1971 em Lisboa, formou-se em História da Arte pela Université Libre de Bruxelles, é professor do Curso Avançado de Fotografia do Ar.Co – Centro de Artes e Comunicação Visual e do Curso de Artes Visuais da Universidade de Faro. Escreveu na Revista História – Jornal de Letras, foi subdirector do Instituto de Arte Contemporânea, actual Instituto das Artes. Foi consultor e curador residente do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian.
Veio residir para o Algarve no início do séc. XXI onde fez vários projectos: “Os dias de Tavira”, no ano de criação do Palácio da Galeria “em armazéns de sal, numa vertente sobretudo de arte contemporânea, com pessoas como o Francisco Tropa, Pedro Cabrita Reis, José Pedro Croft, Augusto Alves da Silva, entre outros”. No âmbito de “Faro, Capital da Cultura”, fez um projecto na Quinta de Marim, entre outros.
Foi convidado pela Fundação de Serralves para ser coordenador local da segunda edição do Allgarve.
Vive actualmente perto de Loulé e pretende “fazer um trabalho estruturante que crie um contexto e instancias críticas que contribuam para que o Algarve cumpra o seu destino que não é ser um mero local de férias, é sim, reencontrar a sua natureza de ponto de encontro, de troca civilizacional e cultural”.
Sente que no seu trabalho há “uma espécie de missão que o investe de uma responsabilidade muito para além do próprio prazer ou da realização profissional”, é absolutamente uma “uma ética e uma estética em simultâneo”.


Mobilehome
“Mobilehome – Curso Experimental de Arte Contemporânea” foi organizado pelo Atelier Educativo e a Câmara Municipal de Loulé, coordenado por Nuno Faria, decorreu no passado Verão e terminou com uma exposição no Lagar das Portas do Céu em Loulé. Este curso, integrado na programação do Allgarve dirigiu-se a artistas com percurso e a participação esteve sujeita a selecção.
“O projecto Mobilehome tem que ver com a leitura que fiz sobre as lacunas mais gritantes no panorama da arte contemporânea no Algarve”, explica Nuno, “não existem instâncias críticas no Algarve ou existem de forma muito isolada. Contam-se pelos dedos os espaços galerísticos com consistência e, mesmo assim, uma só mão chega e sobra. Uma das lacunas mais gritantes e aflitivas é o facto de haver uma panóplia muito interessante de artistas com trabalhos sólidos, a trabalhar cá, sem um enquadramento crítico. Os artistas precisam de diálogo, de trocar ideias, de ter pessoas em quem confiem e que saibam entabular uma crítica. Os artistas com trabalho consolidado são seres muito complexos e com uma estrutura crítica muito forte mas carecem muito do seu contexto para desenvolver trabalho e discutir sobre ele no sentido de enriquecer e ganhar novas perspectivas a partir dele”.
Faltava um bom projecto educativo que juntasse os artistas criando uma ponte de diálogo e acompanhamento de trabalho. “Faltava sobretudo um projecto equiparado ao que poderia ser uma pós-graduação, independente e experimental, para artistas com percurso e que convocasse outros artistas. A perspectiva tem que ser sempre a de tentar perceber o que é que faz falta e de abrir o lugar também a outras pessoas. Essa é a melhor maneira de se ultrapassar, de uma vez por todas, esta relação viciada e completamente assimétrica que é o mundo contemporâneo do Algarve e o seu modo de se posicionar como região periférica que é. A periferia geográfica não tem que corresponder uma periferia de pensamento. Quem acompanha o que se passa a nível internacional nas grandes dinâmicas de programação percebe que os ditos centros estão muito interessados nas periferias e estão a redescobri-las porque elas têm um potencial enorme”.
Trata-se de uma espécie de curso ou escola de Verão e “baseou-se num formato muito simples de seminário/workshop e numa relação de tutores com os participantes, de artista para artista, de curador ou de crítico para artista, e acredito que só é possível fazer isto com pessoas que tenham acção no meio, uma acção verdadeira, com pessoas que façam”.
Foram convocados artistas, “portugueses ou não, a viverem cá ou não, para fazerem parte deste corpo. Houve uma série de conferências, de masterclass e de artistas a falarem sobre o seu trabalho. Houve sobretudo cinco semanas de curso muito intensas que tiveram uma belíssima participação reunindo um conjunto de artistas muito qualificados, muito interessantes, que vivem aqui e trabalham aqui. Penso que a experiência foi muito forte para eles”. Participaram também artistas de outros pontos do país e do estrangeiro.
“Estamos a preparar a segunda edição que já está praticamente formatada”, informa, “em Novembro houve um encontro de preparação com vários tutores. É um projecto com um orçamento bastante vago. Não se acredite que só se fazem coisas com orçamentos altos”.
Este ano o formato vai ser sobretudo de investigação sobre o território. “A arte contemporânea tem uma dimensão política interventiva no sentido nobre do termo e, ao grupo de tutores, parecia impossível não se fazer um trabalho sobre o território, sobre as instituições, sobre esta bipolaridade algarvia. A bipolaridade litoral/ interior, Verão/ resto do ano, a produção própria, agrícola ou piscatória e o fornecimento de serviços, a relação entre a paisagem e os campos de golfe”.
O próximo Mobilehome vai ter também uma forte componente de residência para as pessoas se concentrarem totalmente no seu trabalho e vai haver um naipe de tutores absolutamente invejável.
“O encontro de preparação foi muito importante. Convidámos o Francisco Palma Dias para fazer uma leitura sobre o território. Ele é uma das pessoas mais decisivas, uma das muitas pessoas que aqui, no Algarve, se mantêm recatadas mas têm uma produção de pensamento absolutamente central. Convidei um arquitecto relativamente jovem, o João Soares que nasceu em Loulé, estudou em Veneza, é professor na Universidade de Évora e escreveu uma tese sobre o território algarvio, sobre as mudanças do território, muito pressionado pelo turismo. Tudo isto numa perspectiva de criar conhecimento e de multiplicar esse conhecimento. As coisas têm dado frutos. Alguns artistas estrangeiros que cá vieram querem estabelecer-se aqui, alguns até já o fizeram. Isto é uma lógica sempre multiplicadora. E é preciso entender uma coisa: estes projectos não se fazem com dinheiro, fazem-se com conhecimentos, com contactos, com o trabalho que vai sendo cozido. O meio da arte contemporânea é um meio que se move muito pela generosidade das pessoas. Estes projectos são muito acarinhados pelos agentes do meio, têm uma enorme visibilidade pública e percebe-se que têm em si uma semente que pode crescer de um modo muito forte”.
O projecto Mobilehome é uma parceria do Atelier Educativo com a Câmara Municipal de Loulé, “que continua e estamos a preparar um forte programa educativo que cobre vários escalões etários, várias áreas e pretende reunir um conjunto de pessoas em torno da energia que a arte contemporâneas evoca”.

Algarve Visionário, Excêntrico e Utópico
A Rede de Museus do Algarve criou um projecto expositivo que se chama “Algarve, do Reino à Região” que vai ter lugar em Maio do corrente ano onde participam catorze museus, tendo cada museu uma exposição dedicada a um tema e a uma época. O Museu Municipal de Faro escolheu o séc. XX e convidou Nuno Faria para conceber e comissariar um projecto relativo à arte contemporânea. O projecto apresentado intitula-se “Algarve Visionário, Excêntrico e Utópico” e faz uma leitura a partir de uma tese e de uma figura tutelar.
“A figura tutelar é o poeta João Lúcio que foi muito mais do que um poeta simbolista”, explica o curador, “tinha um trabalho e toda uma existência muito utópica e visionária com o chalé que construiu para criar, para escrever e que infelizmente não chegou a usar com a intensidade com que queria. João Lúcio tem todo um contexto e um conjunto de figuras anunciadoras como o João de Deus que ia e vinha para Coimbra, escrevinhando os seus poemas e dedilhando a sua guitarra numa espécie de prenúncio de uma beat generation. Teixeira Gomes, um vulto absolutamente incrível, foi a visão que o levou mais longe e à abdicação do poder para o exercício da viagem”.
Esta exposição, a partir de um conjunto de figuras, tenta estabelecer uma leitura do território e do modo como este influencia as pessoas “e tenta marcar um conjunto de projectos mais ou menos utópicos, mais ou menos excêntricos, mais ou menos conhecidos. Dá-nos a realidade deste território que é completamente estilhaçada, muito polimórfica, em que as pessoas raramente falam umas com as outras, em que vêm para estar isoladas, para realizar a sua mitologia e a sua utopia individual.”
A exposição estabelece uma ligação entre o Norte e o Sul. “O Algarve é uma espécie de Norte do Sul e de Sul do Norte. Desde sempre há uma relação simbolista com o mundo própria do Norte, essa relação intensa com a natureza, essa infalibilidade com os fenómenos. Isso confirma-se com a presença de um conjunto de figuras do grande Norte, os nórdicos, os austríacos, os alemães, os franceses, numa relação de grande fascínio. Isso tem que ver com o magnetismo deste lugar e o que a exposição faz, num certo sentido, é tentar mapear várias tipologias de relações com o lugar”. A construção da casa “que é a máxima utopia de valorização pessoal. Grande parte de projectos excêntricos e completamente deslocados do lugar são exemplo disso”.
A exposição é composta por vários núcleos. “Um núcleo que se chama ‘Gastronomia enquanto obra de arte total’ apresenta várias figuras e a importância da alimentação e da cozinha neste lugar e contém figuras que basearam todo o seu trabalho criativo aí, pessoas de cá e outras que vieram para cá, mas que levaram estes projectos para o Norte”.
Outro núcleo que tem que ver com o experimentalismo e como figura central René Bertholo apresenta “um disco maravilhoso que se chama ‘Um Argentino no Deserto’, um disco de música electrónica e experimental a que Bertholo dedicou grande parte da sua vida”.
Outro núcleo elege “a plêiade de personagens ligadas à poesia, à palavra, ou à tertúlia no final dos anos 50, princípio dos 60 que aconteceu em Faro gerando esse movimento absolutamente essencial para a mudança radical da literatura portuguesa a que se chama ‘Poesia 61’ e reuniu pessoas como Ramos Rosa, Luísa Neto Jorge, Gastão Cruz, Manuel Baptista, António Barahona e até Zeca Afonso. Aqui vai-se tentar ver, de uma forma mais ou menos livre, como o território influenciou a escrita”.
Outro núcleo diz respeito à relação entre a pintura e a escrita. A palavra e imagem, a poesia e a pintura. “Chama-se ‘Lagos são os Lagos’ e está entre o Joaquim Bravo e a Sofia de Melo Breyner”.
A exposição vai ocupar quatro lugares em Faro: as galerias municipais Trem e Arco, o Museu Municipal e no Museu Regional. “É uma exposição muito forte que vai durar sete meses. É uma espécie de laboratório e também uma homenagem ao Manuel Baptista. Vai ser um trabalho crítico mais decantado”. Os seus grandes “cúmplices” são Vasco Célio e com o Jorge Graça. “É um bocadinho agitar as águas, criar um chão para se debater”, explica, “e é uma exposição com um orçamento relativamente baixo”.
Sobre as críticas à falta de artistas da região no Allgarve,
Nuno Faria afirma: “O debate sobre o Allgarve é um desencontro de ideias e uma perda de energias. Assisti às mais patéticas manifestações de ignorância provindas quer de pessoas do Algarve e que aqui trabalham, quer de pessoas de Lisboa e do Porto e que têm responsabilidades críticas. O projecto Mobilehome esteve incluído na programação oficial do Allgarve e é um projecto que está a ser feito aqui, por uma associação sedeada no Algarve, em parceria com uma câmara algarvia e reuniu mais de vinte artistas que trabalham cá, vivem cá e são de cá.
É preciso ter conhecimento de causa para se falar sobre as coisas. Ninguém tem legitimidade crítica se não sabe distinguir o trigo do joio. Agora quando se quer ter plataforma, ter tribuna para se mostrar e se recorre a um tema como estes, é evidente que não se pode estar à espera que se fale de modo responsável”.

Paula Ferro

domingo, 25 de outubro de 2009

Jornalismo - Entrevista reportagem com Teresa Patrício

in Postal do Algarve
Março 2008



(in "Geografias Variáveis" - Palácio da Galeria - Tavira)







“A arte é longa, a vida é breve”
In "Aforismos" de Hipócrates

















O trabalho da artista prende-se com o ordenamento do território





É o sul, tenho raízes e estou apaixonada por Cacela Velha







Criar harmonias e envolventes que possam favorecer essa harmonia central


Teresa Patrício começou a interessar-se por actividades criativas quando o pai lhe ofereceu uma caixa de lápis de cor, “tinha talvez três ou quatro aninhos. Os lápis de cor eram assim uma grande alegria”, faz um gesto com os braços e fala pausadamente, “depois fui fazendo coisas. Desenhos. Depois encontrei as tintas, depois chateei-me com as tintas. Então descobri a tapeçaria e foi a grande paixão” e o rosto queda-se iluminado.
Está no Algarve desde 1981 “e o que me mantém aqui é tudo. Nunca tinha pensado muito bem na minha ascendência paterna mas é um facto que ela está cá. Tenho ascendência em Silves e Alcantarilha”. Parou o olhar num ponto do infinito só dela e… “é o sul, tenho raízes e é o sul, o Mediterrâneo, é uma questão de clima e estou apaixonada por Cacela Velha”. Riu, deixando transparecer uma imensa jovialidade.
Também fez teatro, “representei com o Grupo de Teatro António Aleixo”. Em Vila Real de Sto António aconteceram dois festivais de Teatro, “um foi organizado por mim e o Nuno Osório”. Fez “fotografia para a Revista Sul, as capas. Já não existe, saíram oito números e infelizmente acabou”.
Mas, chateou-se com as tintas? Perguntei. “Sim, as tintas são um grande susto”. E voltou a rir com tranquilo ar jovial, “assustam-me muito os pincéis, sinto-me mais à vontade com o têxtil”.
No entanto mostrou vários trabalhos onde os pincéis e as tintas estão presentes, quadros pintados a pastel de óleo diluído em aguarrás sobre pano porque “gosto da textura do pano, é muito menos agressivo do que aquela tela plastificada”. Encolheu os ombros e sorriu com ar de catraia, “tenho medo, não sou pintora”.





Acordo, olho para o meu cão e digo “vamos começar um bom dia?”





Outro tipo de trabalho com tintas e pincel é o restauro criativo e reorganizado de peças de barcos que “morrem na praia”. Peças que “pintei com as suas próprias cores e outras nem sequer pintei”. Usou “esmalte dos barcos, pregos dos barcos”, materiais como os de origem. “Fiz uma recolha de Vila Real de Sto António até Olhão. Peças lindíssimas!”
Conta que “para modernizar a frota pesqueira os pescadores que queriam um subsídio da comunidade europeia com 60 por cento a fundo perdido tinham que abater o seu pequeno e velho barco de pesca, muitas das vezes património marítimo absolutamente fascinante”. Fez uma pausa e sorriu tranquilamente. “Isso levou-me a fazer um trabalho com essas peças de barcos às quais chamei ‘Os Navegantes’” e esteve exposto na Casa Azul em Cacela Velha.
O quotidiano de Teresa Patrício é simples e sadio. O seu grande companheiro é um idoso cão de água algarvio que irradia simpatia. “Acordo, olho para o meu cão e digo ‘vamos começar um bom dia? ’ Ele dá uns grandes pinotes, tomamos o pequeno-almoço e vamos até à praia, depois ponho o meu cão em casa, pego na bicicleta e vou dar um passeio. Venho então para os meus trabalhos, quotidianamente”.
Para Teresa o acto criativo não se limita ao espaço de exposição, à galeria. Apesar da aparente rotina do seu quotidiano, a sua forma de estar na vida é interventiva, criativa e tem um objectivo muito forte. “Criar harmonias e envolventes que possam favorecer essa harmonia central. O objecto central e as envolventes trabalhadas é uma coisa que me fascina muito”.
Há cerca de vinte anos atrás, fez uma instalação na praia de Cacela “uma praia deserta, não tem caixotes… tinha muito lixo. Eu e o Ricardo Baptista, tivemos um mês de Agosto, inteirinho, todos os dias, a apanhar o lixo. Delimitámos trinta mil metros quadrados entre Cacela e a Manta Rota, centrámos Cacela e limpámos tudo até ao mais pequenino pormenor, e metíamos em sacos de plástico atrás da duna.” Parou, divertida. “Havia um amigo nosso muito preocupado, ‘e se vos roubam o lixo’!?” Um riso verdadeiro assomou-se-lhe ao rosto. “Enfim, ninguém nos roubou o lixo”, um sorriso-riso de pausa, “eram mil e quinhentos sacos de lixo e fizemos a instalação que era uma cruz de tóxico, das dunas até ao mar. Havia um panfletozinho explicativo onde também agradecíamos que cada pessoa que veio à exposição levasse um ou dois saquinhos para o contentor mais próximo. A areia agradece!” Fez um gesto largo com o braço, divertida com a lembrança. “A exposição chamava-se ‘O chamamento da Areia’. Bem, a praia ficou mais limpa!”
Teresa Patrício sente que “Cacela Velha devia ser a Pérola da Ria Formosa” e “apeteceu-me fazer coisas que mantivessem essa calma que existia em Cacela, essa cal e essa harmonia”. Passou a pertencer a uma associação, “a ADRIC, Associação de Defesa, Reabilitação do Património Natural e Cultura” onde permaneceu durante vinte anos. “Era uma associação muito novinha mas já existia. Deu origem a muitos trabalhos de defesa do património: caçar caçadores de fósseis, caçadores de pássaros, as arribas… enfim, toda a envolvente natural leva a querer preservar isto ao máximo e isso foi um trabalho…” buscou o adjectivo que a rondava, “… poético!” E sorriu.
“Uma vez que o parque nem sequer tem possibilidade de ter guardas por todo o lado, isto aqui em Cacela era um santuário de tiros e de redes ali no ribeiro que é um santuário de verdade. Deu-nos algum trabalho andar à caça dos caçadores. Criámos alguns inimigos”. Por outro lado, “gente de toda a banda vinha de picareta dar cabo das margens do ribeiro para apanhar fósseis. Foi outro trabalho. Vinham até de Universidades da Europa. O mundo soube antes de nós que aqui era a jazida fóssil mais importante da Península Ibérica. Está praticamente destruída, salvo alguns sítios onde há muita vegetação”.
Cacela é um ponto com importância arqueológica. “O início da arqueologia foi uma coisa nossa. Fazer com que as entidades dessem o devido valor à arqueologia. Passaram muitos povos por aqui antes de nós. Existem marcas romanas e islâmicas. Mas toda a história de Cacela está provavelmente por desvendar uma vez que o tremor de terra de 1755 deu cabo das provas históricas que poderiam existir e depois um fogo em Vila Real de Sto António também destruiu arquivos”.



Cacela está no meu trabalho mais do que tudo.




Há que preservar e fazer viver. A casa que habita é uma prova disso. Recuperada adequando, de modo harmonioso e criativo, a resposta às necessidades actuais com a falta de espaço e a traça de sempre do edifício. Teresa gosta de raízes que prolongam e continuam a vida, de mexer nos materiais naturais, de os tratar com cuidado e preciosidade. “Descobri a cana”, exclama apontando para o tecto da parte térrea da casa, (todo o resto é escavado), tratado por ela “desde o canavial, cortar com um bisturi aquela parte da folha para não rasgar…” e prende o olhar às canas, impecavelmente tratadas, com amor e orgulho.
Contacta com outros artistas. “Infelizmente a pessoa com que me dava mais morreu, o René Bértholo. Morava aqui na Ribeira do Álamo, uma pessoa extraordinária, fazia parte do grupo dos pintores do Levante com Manuel Baptista, Jorge Martins, Costa Pinheiro, entre outros. A esposa dele, a Elna Hellwig, continua por cá e pinta, fotografa.”
Neste momento integra a exposição colectiva “Geografias Variáveis” que se encontra patente ao público no Palácio da Galeria. “O que exponho não é tapeçaria, chamo-lho ‘trapologia’ no sentido do estudo do pano pela arte. Gosto dos materiais e gosto de trabalhar com eles. Trabalho como se fosse um puzzle”. Quadros que em vez de serem construídos com tintas são construídos com pedaços de pano. Usa a máquina de costura, “começo pelo material, pela textura e pela cor. Linhos, de preferência. Isso tem-me dado a possibilidade de criar formas monocromáticas através de linhas de cosedura” vai buscar uma textura diferente, cose os panos, combina diferenças ordenadas, daí a relação entre o seu trabalho e o ordenamento do território. “Cacela está no meu trabalho mais do que tudo. A cal, as formas, os muros e as portas e as janelas e para dentro e para fora disso. Tem a ver com a paisagem natural e também com a urbana. Hoje já não podem ser separadas, temos a paisagem humanizada misturada com a paisagem natural e mais uma vez o ordenamento seria maravilhoso para não termos mais desastres como os que estão por aí à vista”.

Paula Ferro

Jornalismo - Entrevista reportagem com Patrícia Gonçalves

in Postal do Algarve
Fevereiro 2008
(in "Geografias Variáveis" -
- Palácio da Galeria - Tavira)



“A arte é o lugar da liberdade perfeita”
André Suarés




Tenho a certeza que fiz a opção correcta






Os diálogos com Bartolomeu dos Santos fizeram-me crescer









O desenho e a pintura têm o poder do prazer e da comunicação



Patrícia Gonçalves nasceu em Tavira em 1982. A tendência para a arte foi algo que foi crescendo com ela. Desde pequena que gostava de pintar, desenhar, misturar materiais, criar formas. “Quando cheguei à adolescência havia quem dissesse que o meu interesse pela pintura e por todo este mundo artístico era algo passageiro. Isso fazia-me pensar” Sorriu. “Mas a verdade é que não me via sem estar neste meio”. Fez uma pequena pausa e ofereceu-me um sorriso iluminado. “Hoje tenho a certeza que fiz a opção correcta!”
Tem bacharel em Pintura e licenciatura em Artes Plásticas pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. Trabalhou com Bartolomeu Cid dos Santos no seu atelier onde aprendeu técnicas de gravura. “Mostrei-lhe o meu trabalho e ele convidou-me para trabalhar no seu atelier onde aprendi imenso com as nossas conversas e as histórias que ele me contava”. Parou um pouco como quem volta atrás nas recordações “Os diálogos entre nós fizeram-me crescer”. Sorriu com o seu peculiar jeito de menina crescida “Eu mostrava-lhe o meu ponto de vista que nem sempre era coincidente com o dele e conversávamos, como iguais,” sorriu mais uma vez, parou e ficou com ar sério, como se tivesse dito algo que não devia “apesar de eu ter uma noção bem definida das distâncias”. Fitou-me séria de modo a não deixar lugar para dúvidas. “Respeito imenso o seu percurso e o seu estatuto de Mestre que me parece quase inalcançável, sobretudo porque estou ainda no início de carreira”.
Relativamente a gravura “ainda estou a explorar as potencialidades desta técnica. Faz-me lembrar um pouco o processo da fotografia. Colocando a chapa nos ácidos, pouco a pouco vão surgindo resultados e não se sabe o que vai sair dali, só depois da prensa é que sabe. Ou seja, imagina-se e cria-se com uma ideia inicial, mas o resultado final é diferente”. Sorriu com ar de catraia, “principalmente para mim pois é uma técnica que ainda não domino, e por isso ainda não sei calcular tempos para deixar a chapa nos ácidos”. Pequena pausa. “Mas posso dizer que tenho gostado dos resultados”.






O desenho e a pintura são testemunhos da vida





Seguidamente entrou no estágio profissional na Câmara de Tavira. Trabalha no Palácio da Galeria/ Museu Municipal de Tavira, na área do Serviço Educativo. Para Patrícia Gonçalves o desenho e a pintura são testemunhos da vida. “Desde a pré-histórica que temos vestígios destas duas formas de arte com as pinturas rupestres” e deixou sair aquela expressão de quem ainda não se despegou da escola. “Já aqui podemos notar que estas duas formas de arte são testemunhos da vida. São como um livro de história porque nos permitem analisar épocas. São duas formas de arte que comunicam”. Parou como quem busca uma forma melhor de dizer as coisas “Talvez me atreva a chamar-lhes ‘ferramentas para mostrar a vida’, o visível e não visível dela” Pequena pausa. “Mostram pensamentos ocultos, acontecimentos mais infelizes ou mais felizes, críticas, etc”. Sorriu, olhou para mim e continuou, “bem, nem sempre comunicam algo. Pode apenas fazer-nos usufruir da sua estética. Esse é o poder do desenho e da pintura. Tal como outras formas de arte, têm o poder do prazer e da comunicação”.







Não me parece que exista uma ‘definição universal’ do que é considerado arte







Tentar saber o que é a arte é uma questão complexa, “é tão complexa que leva sociólogos e filósofos a ocuparem-se dela e a desenvolverem imensas teorias. A arte está em constante reflexão intelectual. É repensada, redefinida, e muito trabalhada. Não tenho a ousadia de dar uma definição de arte”. Sorriu expressando humildade, “depois também não me parece que exista uma ‘definição universal’ do que é considerado arte. Para uns, algumas obras não são consideradas arte, já para outros são. Ou seja, com este paradoxo, parece-me que há necessidade de se saber primeiro o que poderá ser classificado como obra de arte” e o discurso flúi sem paragens. “Quais são as propriedades que levam a tal. Será que a obra para ser considerada uma obra de arte tem que estar no museu? É o museu que dá estatuto à obra? Têm que ser contemplada para ser arte? Quem poderá criar uma obra de arte? Quem é considerado artista? Quem considera que um determinado ‘trabalho’ tem estatuto para ser considerado de obra de arte?” Pequena pausa. “Poderia continuar com imensas questões. Parece-me que o mais adequado seria chegar a um consenso entre entendidos desta área. O que não me parece que seja possível”. Tanta divergência deve-se “talvez ao facto de o mundo estar em constante mudança e a arte ser o ‘espelho’ da vida. Sempre mudando. Isso faz com que as teorias sobre artes, mudem com ele”. Fez uma pausa, ficou séria e esclareceu, “quando iniciei o curso de artes plásticas, pensava que me ia ser dada uma definição de arte mas não.” Pausa. “O que é certo é que aprendi diversas maneiras de reflectir sobre arte, tive conhecimentos de várias teorias, problemas que surgiram ao longo dos anos, li opiniões de diferentes pensadores sobre este assunto. Mas apenas e uma única definição, não”.




O vidro permite que tudo seja visível tal como é





Os trabalhos que apresenta na exposição colectiva intitulada “Geografias Variáveis” que se encontra patente ao público no Palácio da Galeria são fotografias, instalação e escultura. “É um trabalho límpido, branco, translúcido, requintado e até frágil, pois o vidro é um dos materiais de eleição para a realização das peças. São peças visualmente leves mas fisicamente pesadas”.
Utiliza várias matérias e materiais, mas os de maior destaque são o vidro incolor, por vezes água, luz e gesso. “A escolha do vidro e não de outro material, tem haver com a sua característica primordial, a sua transparência. Esta permite que tudo seja visível, que possamos ver além de... É um trabalho com uma mensagem de valorização pelo que é genuíno, o espontâneo, o verdadeiro. O vidro não consegue esconder, permite que tudo seja visível tal como é”. O branco do gesso também está associado à pureza. “Já em latim ‘puro’ tem um sentido material, que é puro o que é limpo, sem mancha, ou seja, sem nódoa”. Reflectiu um pouco. “Apesar de achar que a pureza, a nível do humano não existe. Mas, há sempre pessoas que não vêm o mal onde ele, de facto, não está. Pelo contrário, há muitas outras que vêm mal em toda a parte. Eu procuro valorizar o bom da vida, como uma espécie de ‘hino à vida’”.

As formas arredondadas são apelativas ao toque






A luz do dia, a luz emitida pelo sol, também é importante para a realização do seu trabalho. “A luz simboliza constantemente a vida e a felicidade, as minhas peças/instalações só vivem com luz. O vidro é um material reflectivo e absorve as energias da atmosfera em redor, envolvendo o meio onde se encontra e variando, consoante a hora do dia e até a estação do ano. Aproveito-me da luz inimitável para a realização das fotografias. A luz é o tema central das minhas fotos”.
Outra característica do trabalho apresentado nesta exposição, é o uso de formas arredondadas. “As formas arredondadas são apelativas ao toque ao passo que as pontiagudas, transmitem violência e agressividade” esclarece, “de modo geral é esta a razão da escolha das matérias e materiais para a realização do meu trabalho nesta exposição”.


Paula Ferro



































Jornalismo - Entrevista reportagem com Margarida Santos

in Postal do Algarve
Abril 2008
(in "Geografias Variáveis" - Palácio da Galeria - Tavira)

“A arte, um dos grandes valores da vida, deve ensinar aos homens humildade, tolerância, sabedoria e magnanimidade”
William Sommerset Maugham






Quando quero expressar algo tenho em conta a cor escolhida

Tanto a pintura como o desenho funcionam como catarse mas de modos diferentes.
A gravura permite-me libertar-me imenso
Margarida dos Santos nasceu em Tavira em 1968. Entrou para o Ar.Co em 1991 onde estudou Pintura, Desenho e História de Arte. Seguidamente estudou Temas de Estética e Teorias de Arte Contemporânea na Sociedade Nacional de Belas Artes. Concluiu vários outros cursos e então ingressou na Faculdade de Belas Artes onde se licenciou em Artes Plásticas – Pintura em 2002.
Começou a expor em 1993 numa colectiva do Ar.Co. A partir daí participou em diversas mostras colectivas em locais como o Museu de Angra do Heroísmo nos Açores e Casa das Artes de Tavira, entre outros. Expôs individualmente na Galeria Passage em Ayamonte, Igreja de Monsaraz e Galeria Gravura em Lisboa, entre outros locais.
Em 1995 “fiz um worshop de gravura com o Mestre Bartolomeu dos Santos na Casa das Artes de Tavira. Fui explorar técnicas de gravura que já me vinham despertando curiosidade há algum tempo, mais concretamente a textura e uma série de possibilidades dos materiais. Tirar partido da plasticidade, da técnica em si. Gostei muito”. Afirma “A gravura permite-me libertar-me imenso. Existe uma grande envolvência, e essencialmente permite-me ser mais criativa. Posso usar a fotografia, colagens, aguarela… é um conjunto de experiências que vai mais ao encontro daquilo que eu pretendo transmitir.”
Trabalhar com Bartolomeu dos Santos foi bastante gratificante e enriquecedor porque “partilha connosco as suas experiências, dialoga sobre os nossos trabalhos e fá-lo com imensa abertura. Isso incentiva-nos e ajuda a que o trabalho avance”, conta Margarida dos Santos, “fala muito sobre a influência de outros artistas no nosso trabalho e sobre as técnicas mas sublinha que estas não são mais do que meios para se chegar a algo que só se atinge se nos desligarmos do tecnicismo para outra coisa maior, a procura da nossa própria essência enquanto artistas. Isso conduz-me a uma maior reflexão sobre o meu próprio trabalho”.





Quando pinto existe uma enorme inquietação e no desenho não
No ano seguinte Bartolomeu dos Santos convidou Margarida para ser sua assistente num novo Workshop e “aí explorei um pouco mais esta forma de expressão artística. Foi nessa altura que ficou definitivamente marcado em mim o gosto pela gravura.” Em 2003/04 desenvolve a técnica da gravura na Galeria Diferença em Lisboa.
A pintura e o desenho são essenciais para o seu percurso artístico mas sente-os de modos diferentes. “Quando pinto existe uma enorme inquietação e no desenho não. O desenho permite-me deambular pelo espaço que eu crio”. Independentemente de se usar o desenho ou a pintura como suporte, o fundamental é chegar à profundidade do sentir. A música é muito importante para o seu trabalho. “Quando conseguimos mergulhar nas profundezas da própria arte na busca de tesouros invisíveis, aí está aberto o caminho para a Grande Arte É aqui que entra a música, desempenhando um papel muito importante no mundo da minha pintura. Esta funciona como um fio condutor entre o eu e a arte. Permite-me entrar no espaço criado e conduzir-me a uma maior reflexão. Ao som de Rachel’s, Maria Callas, Rodrigo Leão ou do piano de Keith Jarret, entre outros, vão surgindo novas etapas de um percurso criativo”.


O desenho é fundamental, quer a nível da estruturação do trabalho quer em termos de representação plástica

A cor é inevitável tanto no desenho como na pintura. “Bem, no desenho tento simplificar os meios. Mas, a cor transmite vibrações. Provoca em mim sensações muito fortes que chegam a ser incomodativas” e dá outra direcção ao caminho da reflexão. Impõe outro tipo de opções e de percursos. “Quando quero expressar algo tenho em conta a cor escolhida. Nada é por acaso. Isso torna a pintura mais expressiva e intensa. Quando pinto, o choque comigo mesma é inevitável porque a cor mexe em coisas ocultas, talvez ao nível do inconsciente” muito embora o uso do inconsciente no trabalho final tenha que ser feito com muita consciência. “Tanto a pintura como o desenho funcionam como catarse mas de modos diferentes porque o desenho se torna mais libertador, mais tranquilo, traz-me o encontro comigo própria. A pintura e o desenho quase que são opostos embora se toquem. Um não faz sentido sem o outro, completam-se. Na maioria dos meus trabalhos existe uma fusão entre dois”.
A nível da educação do olhar, o desenho é um mestre para todas as áreas, “é a base de tudo, é fundamental, quer a nível da estruturação do trabalho quer em termos de representação plástica”. Já a pintura “é essencialmente a representação das sensações comunicadas pelo espaço circundante. Bem, ultimamente, com os trabalhos que realizei em função de ‘Geografias Variáveis’ alterarei um pouco a minha opinião sobre o desenho. Tive sensações muito fortes. Começo a aproximar muito o desenho da pintura. Não sei mesmo se o que estou a fazer em desenho não irá ultrapassar o que experimentava antes apenas com a pintura.”
O seu trabalho pretende ter um papel de intervenção. “Quando pinto pretendo abarcar as questões contemporâneas que preocupam a humanidade, nomeadamente ambiente, guerra, sexo…. Interessa-me intervir, mexer com as consciências, essencialmente fazer pensar, sensibilizar, agitar, romper com os preconceitos”.
É importante o estudo da História de Arte porque todos os artistas recebem influências. “A presença constante dos artistas alemães no meu percurso surgiu quase de forma imediata. Inicialmente, aderindo inconscientemente. Hoje percebo que é pela sua força transmitida numa expressividade quase teatral”, explica. “Percursores que vão ao encontro da minha forma de pensar a arte? Vários, Anselm Kiefer, Gerard Richter, Joseph Beuys, William Kentridge, Luc Tuymans, Kiki Smiths e outros”.
Ultimamente “tenho enveredado pelo caminho do design gráfico e ilustração sem deixar de lado as artes plásticas. Tenho vindo a fazer formação nestas áreas, nomeadamente o Workshop de ilustração no AR.CO com Daniel Lima, ‘História da Ilustração’ com Jorge Silva, e ‘Design Gráfico’ em diversas instituições”.

Tenho feito imensas descobertas, essencialmente na exploração das novas tecnologias

Colabora em Lisboa com uma agência de talentos criativos (WHO) com ilustração e Design Gráfico, “tenho feito imensas descobertas, essencialmente na exploração das novas tecnologias que afinal de contas são o futuro e também servem de suporte para o meu trabalho plástico”.
Participou durante três anos consecutivos no Concurso de Ilustração da ETIC (Escola Técnica de Imagem e Comunicação). Ilustrou o “Clube da Poetisa Morta” Adília Lopes editado na Alemanha, assim como diversas capas de livros para o GEOTA (Associação Ambientalista) entre outros projectos gráficos.
“Colaborei com o arqueólogo João Caninas no âmbito da pesquisa documental sobre património arqueológico e etnológico na linha de metro entre o Lumiar e o aeroporto de Lisboa. Neste momento participo da exposição colectiva intitulada “Geografias Variáveis” para a qual fui convidada pelo Dr. Jorge Queiroz que se encontra no Palácio da Galeria em Tavira. Preparo também uma exposição de pintura na Alemanha (Dusseldorf). Paralelamente desenvolvo uma série de projectos gráficos no âmbito de colaborações com o departamento sócio-cultural da Câmara Municipal de Tavira e em trabalhos da Associação Campo Arqueológico de Tavira”.

Paula Ferro