quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Fotografia e impressões - As minhas janelas na Quinta da Sinagoga

O que pretendo mostrar neste blog não são obras-primas. Pretendo muito mais mostrar um olhar através de percursos feitos.

Passo a vida a reencaminhar e a reorganizar o olhar. E por isso também a reestruturar a curiosidade.
Isto acontece-me devido ao fascínio que o mundo circundante me provoca.
Ainda por cima, cada vez que o olhar volta a pousar num mesmo objecto, encontra nele pequenos elementos novos que, por sua vez, alteram também a forma de conceber todo.

Gosto de olhar, de olhar e compreender as estruturas, as nuances, os encontros e desencontros das linhas, o namoro ou guerreia das formas, as formas que surgem da conjugação de objectos… e de sentir que apreendo, pela compreensão dos porquês dessas formas, das razões das tonalidades… gosto de me sentir cada vez mais perto do objecto que me cativa a atenção e que depois me impõe o espraiar do olhar.

Faço muitos registos de coisas diferentes porque todas elas me despertam curiosidade, e depois, porque as coisas todas diferentes acabam por ter muitas coisas semelhantes. Todas têm forma, todas têm cor, todas têm um posicionamento em relação às outras coisas, sejam as outras coisas similares ou completamente diferentes.
E começa uma roda-viva de jogos de olhar que nunca mais tem fim.
As coisas mudam permanentemente sem deixarem de ser as mesmas coisas. Tal como nós.
As horas dos dias têm intensidades diferentes de luz. A luz move-se e chega-nos de pontos diferentes causando alterações na nossa percepção das suas formas e por isso permitem-nos criar diferentes ideias, diferentes concepções do mesmo objecto.
Para além das horas dos dias, as mesmas horas de dias diferentes apresentam intensidades diferentes na luz que nos oferece. As estações do ano, os dias cinzentos de verão e os dias de sol de inverno... A chuva, a tristeza dos dias cheios de nuvens. Altera o estado de espírito das coisas porque altera a nossa forma de olharmos para elas.

O mundo desvela-se permanentemente, sempre diferente, sempre igual... e nunca se deixa agarrar. Mas permite-me ir atrás do seu movimento permanente e continuado de eterna manifestação da Criação e assim permite-me repensar-me continuamente, conforme vou revendo o sempre visto e nele encontrando sempre elementos novos.
É por isso que às vezes me aborrece a ideia de viajar.
Ir à procura do quê? De ver o quê?
Eu não dou cabo do que tenho para ver aqui!?
Para desenjoar... pois!?... Mas é meu costume encontrar noutros lados exactamente o mesmo que tenho aqui.
E eu cá, gosto disto, mas é que gosto mesmo muito disto!

O que apresento aqui hoje são alguns dos imensos momentos que registei das janelas da Quinta da Sinagoga, onde vivi bons e maus momentos, como se vive em todo o lado, mas de onde guardo, até dentro da maneira de me ser, imensos instantes de magia que lá vivi.

As janelas são uma das fontes de momentos desses. Onde o vento, a chuva, o sol, a posição das cortinas... tornam sempre tão diferente aquilo que parece ser sempre igual.


Instantes estéticos, de companhia branda com sonoridades cheias de folhas que dançam ao sabor do falajar de bicharocos, meus vizinhos, coabitantes do meu universo quotidiano.
E as formas expressam-se, consoante a luz, a temperatura... o instante. Têm rosto, têm fala:



Uma suavidade e algo que não sei explicar por palavras, mas talvez esta série de imagens do mesmo instante, consiga exprimir ou despertar.




O movimento gerado pelo vento e a forma como as cortinas se assumem e se aconchegam, o igual que se mostra diferente a cada instante.
E, conforme a luz cria arte através dos contornos dos objectos... aparecem-me personagens:


Que me contam estórias:


Quem tem janelas assim (fora o resto), para que precisa de televisão?
Não quero ficar agarrada a um ecran plano.
O meu ecran não é plano, é pleno.

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