sábado, 30 de agosto de 2008

Jornalismo - entrevista com João Manuel da Fonseca

in Postal do Algarve - Março de 2007



Através da pintura deixo sair os meus sentimentos, extravaso as emoções, as sensações, os meus estados de alma.



João Manuel da Fonseca nasceu em Tavira a 31 de Dezembro de 1953 mas reside desde criança em Santa Luzia, terra que adora. Actualmente colabora com Juntas de Freguesia do Concelho de Tavira na criação de cenários, cartazes e logótipos para as festas populares. Foi também o autor do projecto de uma rotunda sita em Santa Luzia. Ainda muito novo ganhou o primeiro prémio no concurso de construções na areia promovido pelo Jornal de Notícias durante três anos consecutivos. Foi Fuzileiro Naval mas as artes plásticas estiveram sempre no seu coração e sempre foram a sua segunda ocupação. O artista encontra-se representado em inúmeras colecções particulares tanto em Portugal como no estrangeiro. Participou em diversas exposições individuais e colectivas desde 1990.
Pode ser apreciada uma retrospectiva de trabalhos seus a partir do dia 6 do corrente mês no Salão da Junta de Freguesia de Santa Luzia de segunda a sexta-feira das 16 e 30 horas às 19 e 30 horas e aos sábados e domingos das 16 às 20 horas.

Pintar dá-me paz e tranquilidade.

POSTAL DO ALGARVE – Quando descobriu que tinha tendência para as artes?
JOÃO MANUEL DA FONSECA –
Desde a escola primária. Nessa altura já gostava muito de desenhar. A minha professora guardava os meus caderninhos. Todas as páginas dos meus cadernos tinham desenhos. Também desenhava para os meus amigos. Aos doze anos ganhei pela primeira vez o primeiro prémio da primeira categoria no concurso “Construções na Areia” que era organizado pelo Diário de Notícias. Prémio que repeti nos dois anos seguintes.

Também trabalha em escultura?
Sim. Na minha vida profissional como militar fiz alguns trabalhos de escultura, posso destacar a maqueta da pista de lodo que se encontra na Escola de Fuzileiros e as esculturas que se encontram na entrada do Batalhão nº 1 e na entrada do Edifício do Comando do Corpo na Base de Fuzileiros (Alfeite).


Formação artística.
Sou autodidacta. A minha aprendizagem foi feita sobretudo em casa e especialmente com o meu irmão, o Carlos Fonseca Martins.

Há mais artistas na família?
Que eu tenha conhecido pessoalmente, o meu avô materno que era mestre entalhador e músico. A minha mãe também tinha muito jeito. Tenho alguns quadros dela. E por último o meu irmão que é mestre de pintura.


Como conseguiu conciliar a carreira militar com as artes plásticas?
Não senti nunca dificuldades em conciliar uma coisa com a outra. Ambas se completavam. Inicialmente pintava nas horas livres, muitas vezes no quartel porque era asilante, depois a convite dos meus superiores, comecei a fazer outro tipo de trabalhos com maior seriedade.

Que tipo de trabalhos o convidavam a fazer?
Para além das esculturas já referidas, foram-me propostos logótipos. Sou co-autor do actual símbolo dos Fuzileiros, foram-me propostas várias pinturas, uma delas, representando os Fuzileiros que me foi encomendada pelo Comandante do Corpo de Fuzileiros e se encontra no seu gabinete.

A pintura e a escultura são como uma necessidade fisiológica.

Pintura e escultura. Qual a preferência?
Gosto tanto de pintura como de escultura. Se não faço mais escultura é porque não tenho um espaço físico adequado às necessidades deste modo de me exprimir. Fiz algumas experiências utilizando materiais da natureza, como conchas, pedras e outros, o que me deu muito prazer. Cheguei a expor trabalhos desses mas gostaria de ir mais além dentro da escultura. Gostaria muito de trabalhar com barro, esculpir pedra e experienciar outros materiais. Talvez um dia… Pintar é uma necessidade constante. Através da pintura deixo sair os meus sentimentos. Pintar dá-me paz e tranquilidade. A pintura e a escultura são como uma necessidade fisiológica. São onde extravaso as emoções, as sensações, os meus estados de alma, as minhas angústias, as minhas melancolias.

Também faz arte sacra. Porquê?
Faço arte sacra porque gosto de fazer retrato. Por exemplo o retrato de Madre Teresa de Calcutá e o de João Paulo II. Independentemente de serem figuras ligadas à Igreja, são pessoas que admiro pela sua obra e pela mensagem que nos deixaram. Mas, para além destas personalidades também pintei outros rostos públicos como por exemplo, o retrato do Duque de Bragança que se encontra na sua própria residência.


Também pinta paisagens.
Sim, sobretudo paisagens marinhas e urbanas porque gosto de pintar tudo aquilo que me rodeia.


Por vezes deixo-me ir atrás de mim próprio e o trabalho acaba por me ultrapassar.

Mas eu já vi quadros seus que vão para além desse realismo.
Por vezes eu proponho-me a fazer um trabalho mas deixo-me ir atrás de mim próprio e o trabalho acaba por me ultrapassar, ou surpreender. Outras vezes, apresento trabalhos com um ar de muita espontaneidade e que são o resultado de composições ou de decomposições.

Pinta com que regularidade?
Desde que me aposentei pinto com maior regularidade, praticamente todos os dias.

Qual a importância da cor?
A cor é fundamental porque a cor é luz e sem luz não há vida e viver para mim é criar.

Textura.
É um complemento da cor e da forma, dá mais possibilidades ao acto criativo.


Já vi quadros seus com relevo.
Isso tem a ver com a minha necessidade de inovar, de procurar novas texturas, de experienciar e descobrir novas técnicas.

Qual a importância da composição?
É fundamental. Dela depende a harmonia ou desarmonia, a beleza e a estética.

História de Arte. É importante?
Claro que é importante. É lá que vamos beber. Por isso é que cada vez mais é fundamental a manutenção e criação de museus, ou de outros espaços, onde se agrupem trabalhos artísticos para que todos possamos aprender com eles.

Tem especial admiração por algum artista plástico?
Sim, por muitos. Especialmente por Medina e Eduardo Malta, dois artista portugueses do séc. XX, na medida em que são retratistas que me influenciam.

O que é para si um artista?
Um artista, por maior que seja, jamais conseguirá fazer-se amar por todos. Seria ingenuidade pretender que uma obra agrade a toda a gente. Um artista é alguém que exprime sentimentos e sensações. No fundo, não é mais nem menos do que uma pessoa que cria obras de arte dignas de relevo.

Texto e fotos de Paula Ferro




(retrato de Jesus Cristo)

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