Instalação "Animal-Carnival" na Artadentro em Faro.
Tomás Colaço revela: “Tenho um avô pintor, um bisavô pintor, um tetravô pintor…”
Tomás Colaço, formado em Arquitectura por Veneza, em 1994, doutorado em Teoria da Arte Contemporânea pela Sorbonne, em 1999, provém duma família de várias gerações de pintores e estuda Arte desde criança. Ensina arquitectura, desenho, pintura e escultura mas continua a receber aulas no Ar.Co e na Maumaus em Lisboa porque não quer parar de aprender. Vive e trabalha em Tanger e Lisboa. A pintura, o desenho, objectos e o vídeo, integram normalmente as suas exposições/instalações de cariz conceptual.
Quando descobriu que tinha tendência para a arte?
Tendência para a arte não descobri ainda, mas comecei a trabalhar muito cedo em arte. Seria difícil de fugir a isso. Tenho um avô pintor, um bisavô pintor, um tetravô pintor... Isto é já mesmo um mal de família, dizem. Comecei muito cedo a ter aulas. Não como criança no jardim-escola mas aulas de pintura. Com Cecília Mant fazia uma coisa chamada Educação pela Arte, fui aluno do Espiga Pinto, depois da Maria José Paço d’Arcos, uma “superartista” que pôs imensas pessoas a pintar. Perto dos 16 anos fui estudar para a Ar.Co., durante muitos anos. Ainda lá continuo. Dou aulas de arquitectura, desenho, pintura e escultura mas vou sempre recebendo aulas. Agora estou na Ar.Co. e na Maumaus que é uma escola um bocadinho conceptual.
É arquitecto.
Sim. Tirei Arquitectura. Comecei por fazer a Escola de Agronomia. Saí de Agronomia para ir para Direito e fui para Arquitectura. Acabei Arquitectura em Veneza mas nunca deixei de pintar, quem diz pintar, é pintar, fazer escultura, vídeo e fotografia. É esse o meu trabalho.
Qual é a relação que existe para si entre pintura, desenho, escultura, vídeo, fotografia e arquitectura?
Habituei-me desde cedo a fazer pintura, fazer escultura, fazer fotografia e fazer vídeo. No fundo são uma e a mesma coisa na medida em que são técnicas diferentes, meios de expressão diferentes para nós nos exprimirmos, para nós falarmos das coisas que nos interessam. São coisas que nós necessitamos de exprimir, é uma necessidade, é um desejo que se torna necessidade. Não é só mostrar a pintura, neste caso o que é que eu fiz? Aqui fiz uma instalação de pintura, escultura um pouco, mas essencialmente de pintura e desenho. A parte de instalação é tão importante ou mais do que a parte em que eu estive sozinho, isolado, a fazer as minhas pinturinhas que parecem umas coisinhas de bombons suíços, não sei… As pinturas são o álibi para as pôr na parede. Podiam ser minhas ou de outra pessoa, não é muito importante.
A Pintura é uma proposta de uma nova visão de objectos que já conhecemos.
Podia definir instalação.
Instalação é uma coisa muito simples, o nome é que às vezes assuste as pessoas. Porque tem o ar de contemplar, disparatado, maluqueira. É agarrar numa série de objectos e colocá-los num espaço para com isso expressar alguma ideia. No caso da Animal-Carnival, estão aqui as pinturinhas umas ao lado das outras, está aqui um bicho muito esquisito com uma cabeça muito esquisita que pode ter graça ou não, está ali um papagaio que tem um corninho de plasticina que pode ter graça ou não, mas, qualquer criança olha e vê, vê dessa maneira que nós podemos ver na instalação. E que é não levar muito a sério, não achar que tem imensos significados, fabulosos, extraordinários e transcendentes. É uma proposta de uma nova visão de objectos que às vezes já conhecemos. É aqui que reside a arte. Por exemplo a Pintura, é uma proposta de uma nova visão de objectos que já conhecemos, especialmente quando é figurativa. Naquele caso (apontando para um dos seus trabalhos expostos na parede), estou a propor ver o Palácio de Sitiais mais esverdeado do que de costume. Nesta exposição tentei ser um bocadinho divertido.
No Pós modernismo vai-se buscar objectos que já existem para recriar ou recontextualizar, para apresentar de uma nova maneira ao público mas não precisamos à partida de sermos grandes virtuosos pintores ou virtuosos escultores. Basta-nos à partida, da dita calma, agarrar nos objectos existentes de que nós gostamos ou que nos fazem sentir alguma coisa que mexem connosco e vamos propô-los às pessoas que nos vêm ver.
A Arte é a coisa mais séria que existe mas não em cada peça.
Quando faz uma instalação a sua preocupação está na mensagem ou com a parte estética?
Essa procura da mensagem, normalmente é o perigo da interpretação dos nossos trabalhos. Pelo menos no que se refere ao meu trabalho. Por exemplo aqui (apontando para uma coluna pintada com um papagaio em cima), se uma pessoa vir um papagaio com um corninho, em cima de uma coluna com um homenzinho assim meio morto e começar à procura de uma mensagem, aquilo corre mal, não é? (Risos) Corre-me mal a mim e corre mal à pessoa que está a ver. Mas se chegar aqui uma criança e olhar para a coluna com o papagaio, é uma simplicidade fantástica, não tem problema nenhum, é um papagaio que fica mais divertido com um corninho vermelho feito em plasticina, tem mais graça do que se não tivesse o corninho em plasticina e o resto da coluna é uma coisa que uma pessoa vai-se divertindo e vai pintando e não leva aquilo muito a sério. Por isso é que eu estava a dizer que se levarmos estas coisas muito a sério, é uma chatice. (Sorriso aberto e divertido) Se não levarmos muito a sério, é divertido, é bem disposto, fica-se contente, tem graça. Às vezes vê-se chegar uma pessoa a uma exposição e ficar com um ar aflito a olhar para as coisas a pensar: “ O que é que eu hei-de pensar disto?” e apetece dizer-lhe: “ Oh homem, relaxe! Descanse! Não fique aflito!” Quando digo para não levar a Arte a sério é neste sentido. A Arte é a coisa mais séria que existe mas não em cada peça. Repare, se eu dissesse que um papagaio com um corninho vermelho de plasticina era uma coisa séria, provavelmente, no mínimo batiam-me e acho bem. Ou uma girafa preta toda mal feita, com os cornos de um gamo que não é girafa nenhuma é, por acaso um gamo que vivia em Máfora e os líquens que são da Serra da Arrábida e depois acabou tudo pendurado em Faro, em cima duma coisa preta… Se uma pessoa levar isto a sério à procura de uma mensagem por detrás de tudo isto, é uma chatice. Se uma pessoa for achar que é divertido, tem graça, se vir que cada elemento é um elemento curioso ou chama a atenção ou é insólito suficiente para despertar alguma curiosidade, exercer uma atracção qualquer por qualquer coisa, já é diferente. A primeira necessidade é nós estarmos aqui bem dispostos e é o apelo estético realmente. É uma coisa que nós procuramos e que as pessoas acham que já ninguém procura mas é mentira, que é o apelo estético, o apelo a uma coisa que se chama a excelência, que é seduzirmos de alguma maneira. Nós queremos seduzir. Queremos, com os meios que temos, sejam eles quais forem, comprando cãezinhos na feira, pintando colunas em casa, fazendo plasticina em cima dos papagaios, indo buscar vinil para fazer girafas, seja o que for, nós queremos seduzir as pessoas que cá chegam e queremos que as pessoas encontrem uma coisa de que não estavam à espera. Seduzir tem a ver com esse factor surpresa, com essa coisa de dizer: “O que é que é isto agora? O que é que aconteceu? O que é que este gajo quer?” Essa coisa também pretende ser um factor de sedução. Agora é ou não é. Depois é conforme, tanto o cliente como nós. O sermos realmente excelentes ou não.
Texto e fotos de Paula Ferro
1 comentário:
Filho de peixe, perdão tetraneto de peixe sabe pintar, oxalá consiga transmitir aos seus filhos, caso os tenha a sua vocação, que é linda, adoro ver uma boa exposição
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